Young Americans foi adquirido em 1989, mas especialmente por causa da faixa-título e do mega hit Fame, em que Bowie faz parceria com John Lennon. Um disco que mostrou o lado negro do cantor, que participou de programas de black music na TV americana, como Soul Train e cujo hit foi sampleado até por James Brown, o que muito alegra Bowie. É o disco que fez Bowie ser mais aceito na América, apesar do visual todo estranho, sem sobrancelhas e mais magro do que nunca. Era o auge da fase disco e do consumo de cocaína do cantor, que na época vivia em Los Angeles. Foi quando os teatros pequenos deram lugar aos ginásios de esportes. E todo isso por causa de Fame. Lennon tem algo a ver? Possivelmente, mas o mérito maior cabe todo a David Bowie. Em 1989, eu morava em Ribeirão Preto e havia comprado Diamond Dogs, de 74, obra inspirada em 1984 de George Orwell. Eu fiquei fascinado pelo som estranho de Bowie, e quis mais. Comprei de um amigo uma cópia velha do Young Americans. Confesso que não ouvi muito, por causa da qualidade de som. Muitos chiados e daquelas prensagens nacionais que pouco permitem ouvir. Mas ano depois, comprei em cd e se tornou meu disco favorito, superando Hunky Dory ou Ziggy Stardust. O disco é daqueles que você coloca para tocar e não pára mais de ouvir. Ele abre com a faixa-título, com sua letra complicada e longa, mas dona de um ritmo inesquecível. Nessa época participavam da banda o desconhecido cantor de soul Luther Vandross e o talentoso guitarrista Carlos Alomar. “Havia muita energia no estúdio. Os músicos não me conheciam e esperavam alguém espalhafatoso, com vestidos e outras coisas. A única coisa diferente de mim é que eu estava quase sem sobrancelhas. Mas sobrancelhas não cantam e também não chocam muito as pessoas. O clima todo era muito aconchegante para tocarmos’’, lembra David. Com a presença de John Lennon no estúdio, Bowie regravou “Across the Universe”, dos Beatles. A balada delicada na voz de Lennon, vira quase um soul na voz potente de Bowie. O disco fazia uma leitura da juventude norte-americana explicada por um jovem inglês. ‘’Era o auge da música disco e eu não entendia muito bem o que acontecia na América. Este é um país de muitos contrastes. Quase ninguém me conhecia lá, eu era uma figura excêntrica para os jovens do país. Meus shows não lotavam. As pessoas não entendiam Ziggy, o glitter era coisa de minoria, e mesmo ficando boa parte do tempo lá, eu não era aceito como queria. A prova disso foi o single Young Americans, que muitos pensavam ser cantado por um negro. Quando viram um inglês branquela, não entenderam nada.’’ O público realmente não entendeu, mas fez o disco subir como foguete nas paradas americanas, chegando ao nono lugar. De uma hora para outra, Bowie é consumido pela mídia. Era uma época que em David saía do estúdio e ia direto para as boates aproveitar a onda da música negra. ‘’Acho um saco ter que dormir. Você perde momentos preciosos da sua vida dormindo. Eu queria aproveitar o tempo o máximo possível, ficar acordado o maior número de horas que pudesse. Por isso, me drogava tanto. Eu não queria ficar exausto nunca.’’ Usando drogas como speed (mistura de cocaína ou heroína com Valium), Bowie acelerava o ritmo frenético da sua vida. Ele daria uma guinada na carreira com “Fame”. ‘’Essa é um estória gozada. Nós estávamos no estúdio chapados e Lennon começou a gritar ‘’eiimmm’’. Eu jurava que ele berrava “Fame” e Carlos Alomar ficava fazendo um riff de guitarra. No dia seguinte mostrei uma letra ao John, que adorou. Ele teve uma pequena participação vocal, mas como ele foi o inspirador da canção, ficou com a co-autoria.’’ A canção explodiria na América saltando para o primeiro lugar. Bowie era chamado em todos os programas de TV para se apresentar e os shows tiveram que ser mudado de locais, em espaços maiores. O disco mostrava faixas longas e Bowie fazendo uma panorama da América. Suas letras eram sempre irônicas e pesadas, mas desta vez caiu em cheio no gosto popular. ‘’Me falaram que até o James Brown chupou o riff da canção. Eu não acreditava que o cara mais copiado da América, a quem eu tentava imitar no palco, tinha chupado algo de mim. Foi uma grande honra.’’ O disco ainda ganhou mais faixas extras na versão do selo norte-americano Rykodisc, mas essa edição já está fora de catálogo. Se você nunca ouviu Bowie ou ouviu pouco, tente conhecer Young Americans. Junto com Ziggy, Station to Station, Hunky Dory, Low e”Heroes” redefiniu a música da década de 70 e boa parte do que seria feito na década de 80. Um clássico absoluto! Fique com a letra de Young Americans: They pulled in just behind the fridge All night, she wants the young american. Scanning life through the picture window All the way from Washington, All night, he wants the young american Do you remember your President Nixon? All night, you want the young american But you ain’t a pimp and you ain’t a Hustler Ain’t there a man, who can say no more? All night, I want the young american Traduzindo ficaria mais ou menos assim: Esconderam-no dentro da geladeira Essa noite, ela deseja o jovem americano Observando a vida através da janela, Essa noite, ela deseja o jovem americano Todo o caminho desde Washington Essa noite, ele deseja o jovem americano Lembra-se do seu Presidente Nixon? Bem, bem, porque você não carrega uma lâmina, apenas em caso de depressão? Essa noite, você deseja o jovem americano Mas você não é um cafetão e também não é uma prostituta Não há aqui um homem que saiba dizer basta? Essa noite, eu desejo o jovem americano *Soul Train pode ser um trocadilho com o programa de música negra dos EUA, ou também entendido como uma alma igual a dos negros, que exigem os mesmos respeitos e direitos. É uma tradução complicada de ser feita, mas que pode ser entendida no contexto da letra. Discografia David Bowie (1967)
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