Se você tiver entre 25 e 30 anos irá se lembrar de músicas como Proteção ou Até Quando Esperar. Diferente do rock insosso que entope os dials de todas cidades, nos anos 80 você ouvia a Plebe Rude nas rádios após o sucesso do Mini-LP, o Concreto Já Rachou. E, além da Plebe, tinha ainda Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Ira!, Ultraje a Rigor, RPM, Titãs e a mais cultuada de todas, a Legião Urbana. O rock brasileiro tinha vindo para ficar de uma vez por todas. Grupos que deixavam seu recado de forma contudente. Hoje quando você pula de uma rádio para outra dá vontade de chorar. Mas nem sempre foi assim. Pelo menos não na década de 80.
Eu ganhava de meu pai uma mesada de 400 cruzados (uns 150 reais mais ou menos nos dias de hoje). Era sagrado. A grana dava certinha para comprar um LP e fita Hot Tape da Basf, de 60 minutos, por semana. Aí era só colocar naqueles pesados walkmans e sair cantando pelas ruas. Foi assim que comecei a colecionar discos, a gostar de música. Me lembro bem quando comprei o primeiro trabalho da Plebe. Era uma capa com os quatro posados, fazendo cara séria. O disco prometia: além de “Até Quando Esperar” e “Proteção”, tinha “Sexo e Karatê”, “Minha Renda”, “Brasília”, entre outras pérolas. Para a minha total frustração nunca conseguir ver a Plebe ao vivo. Depois do segundo LP da banda, o Nunca Fomos Tão Brasileiros, eu perdi a banda de foco e me lamentava por nunca ter visto o grupo. Pois a vontade de ver aconteceu apenas no ano 2000, quando eu não sabia mais deles. O show foi tudo aquilo que eu queria ter visto anos atrás: muita energia, platéia animada cantando as músicas. Quando soube que sairia um disco ao vivo do grupo, saí correndo atrás desesperadamente. O nome não podia ser mais apropriado: Enquanto a Trégua Não Vem – Ao Vivo. O disco foi gravado em 15 e 16 de novembro no Espaço Odeon, no Rio em 1999, e só chegou às lojas em abril de 2000. O álbum em si é um clássico e um dos melhores ao vivo que já ouvi. Começa com Brasília, com Philippe e Jander dividindo os vocais como sempre, a grande marca da Plebe. Quando cai em “Minha Renda”, você já está pulando sem parar. As letras altamente engajadas e corrosivas continuam atuais neste Brasil globalizado e o show o mesmo de quase duas décadas atrás (pelo menos foi o que me disseram os fãs que tiveram a chance de ver os plebeus ao vivo na década de 80). A Plebe pode não ser tão carismática quanto a Legião, mas com certeza tem um punch que a banda de Renato Russo não tinha. Faixa a faixa o disco vai girando no aparelho de cd sem parar. “Johnny Vai À Guerra” continua com o mesmo vigor de antes, só que muito mais crua e punk. Aliás a banda não se esqueceu de homenagear um grupo brasileiro dos primórdios do punk, o Cólera. Medo é uma bela canção. Veja a letra: Às vezes tenho medo Às vezes sinto raiva Pois muita gente mente Só para empurrar Além de Cólera há uma versão maravilhosa de “Luzes”, da Escola de Escândalos. Veja um pedaço da letra… Luzes que piscam, gritam e avisam Havia uma canção que Renato Russo adorava do grupo e que foi registrada no disco Mais Raiva do que Medo, tendo inclusive a participação do legionário: “Pressão Social”. A música acabou entrando no disco. Os plebeus urram, pedem bis, e berram Puta Que Pariu na canção “Proteção”, que começa com um simples vocal de Philippe e um violão. Rapidamente a banda ganha uma chama e emociona. Para encerrar o disco, lógico que deixaram o hino “Até Quando Esperar”. A platéia urra, pede mais, totalmente descontrolada. Eu sei porque também estava neste estado quando vi o show. A Plebe voltou. Talvez não para sempre. Tudo bem, a saudade foi morta. Mas seria muito legal que pudesse vê-los de novo. Um abraço a todos. Discografia O Concreto Já Rachou (1985) |