John Lydon, ex-Rotten, ex-Sex Pistols formou um dos grupos mais inovadores e inclassificáveis dos anos 70 e 80. Desprezando a herança punk, atacou de ritmos jamaicanos e muito trabalho em estúdio para promover o Public Image Limited, ou simplesmente PiL, uma verdadeira revolução.
Como continuar a carreira mantendo o nível depois de anunciar o fim de uma das mais importantes bandas da história? Muitos tentaram, mas poucos conseguiram. Um deles foi John Lydon. Em sua primeira mutação, foi Johnny Rotten, o líder dos Sex Pistols, o grupo que mais arrepiou o mundo nos final da década de 70.
A história da banda já é famosa. Mas o que ninguém esperava é que o líder, Rotten, fosse capaz de criar um grupo tão inovador e importante depois dos Pistols. E Rotten conseguiu: com o nome de John Lydon formou o Public Image Ltd. ou simplesmente PiL para os mais chegados.
O PiL foi criado em 1978, em algum ponto entre Nova York e Jamaica. Já sem Pistols, Lydon queria criar um novo conceito sonoro, com baixos dissonantes, bateria tribal e muitos overdubs nas guitarras.
Para montar a banda, ele recrutou o baixista Jah Wobble, chamado por ele de “melhor mau baixista do mundo”, o guitarrista Keith Levene, que participou dos primeiros meses de vida do The Clash e na bateria o desconhecido Jim Walker, um músico de Vancouver.
Wobble conta que apesar de ser amigo de Lydon desde 1971, não ficou impressionado com o convite para formar o PiL. “Eu pensei que John fosse fã do Led. Ele não era um cara muito simpático, e costumava me comprar bebidas para ficar meu amigo, porque ninguém gostava dele. Só depois que ele se rastejou para perto de mim que deixei ele ser meu companheiro.”
O grupo começou a trabalhar inicialmente com duas canções, Public Image e Religion. O início foi confuso. Segundo um crítico da New Musical Express, Neil Spencer, as músicas pareciam mais serem de Electric Ladyland (disco de Jimi Hendrix) do que ter alguma semelhança com canções punks.
Alguns acharam que a banda tinha forte influência de reggae. Wobble explicou: “Rock é obsoleto, mas é nossa música, faz parte da nossa cultura. Pessoas acham que nós estamos tocando reggae, mas não queremos parecer com nenhuma banda de reggae. É apenas uma de nossas influências, da mesma maneira que toco pesado no baixo.”
Uma das idéias básicas do PiL (e que nunca funcionou bem) é que todos os integrantes tinham o mesmo poder de decisão: “a música é de nós quatro; os lucros também. Tudo dentro do PiL funcionará dessa maneira”, garantiu John.
Foi a jornalista Caroline Coon a primeira sugerir o nome da nova banda de Lydon, ao escrever uma matéria chamada Public Image. Ao descrever o som do grupo para Coon, Lydon disse que era “totalmente pop, com significados profundos”.
Logo depois, o grupo ganhou a capa da Melody Maker com o nome Public Image (sem o Ltd. ainda) estampado. Mas não havia previsão de lançarem alguma canção, que só aconteceu em setembro. O primeiro compacto se chamava Public Image. A banda atacava os grupos da moda, com a ácida crítica de Lydon, tão comum nos tempos dos Sex Pistols. O compacto trazia duas capas bem distintas: a primeira imitava os tablóides ingleses e foi impressa com quatro páginas em papel de jornal; a segunda foi mais tradicional usando o logo da Virgin, com a cor verde no lado B e vermelha, no B, cuja canção era “The Cowboy Song”.
Eis a letra de “Public Image”:
Você nunca ouviu uma palavra do que eu disse
Você só presta atenção nas roupas que visto
Ou quando o interesse é mais profundo
É sobre a cor do meu cabelo
Imagem Pública
O que você queria nunca ficou claro
Atrás da imagem de ignorância e de medo
Você se esconde atrás da máquina pública
E ainda segue o velho esquema
Imagem Pública
Dois lados da mesma história
Alguém tem que me parar
Eu não sou o mesmo do começo
Eu não serei tratado como propriedade
Imagem Pública
Imagem Pública é o que você queria
Imagem Pública pertence a mim
É minha entrada
Minha auto-criação
Meu grande final
Meu adeus
O single foi eleito pelas revistas inglesas como um dos destaques do ano. O grupo continuou a trabalhar no disco de estréia e o nome ganhou o “Limited’ como uma ironia ao single de estréia.
“A banda se tornou uma companhia limitada para parodiar nossa primeira canção”, explicou Lydon.
Uma das primeiras preocupações do Pil era com sua imagem e assim resolveram criar uma logomarca que seria adotada durante toda a carreira do banda. Desenhando em banco e preto e tendo apenas o “P” e o “L” maiúsculos, a intenção era chamar a atenção desde o começo.
Com a canção indo bem nas paradas, continuaram a trabalhar com mais intensidade no álbum de estréia. O trabalho foi lançado no dia 8 de dezembro, apesar de terem sofrido por achar um estúdio que quisesse gravar o PiL Lydon criticava as péssimas condições de trabalho que os estúdios ofereciam.
Batizado de First Issue (Primeiro Lançamento), o disco tinha canções com “Fodderstomp”, uma tonitruante canção de sete minutos e meio, encharcada de dubs. O disco pode ser dividido em dois: o lado mais pop, com singles, como “Public Image”, “Low Life” e o lado mais experimental com “Religion”, a própria “Fodderstomp” e “Theme”, a canção favorita de John neste álbum.
“Nós começamos as quatro, cinco da manhã. Fizemos um par de takes, mas a máquina começou a fazer errado. Muito irritante. Eu pensei que o som estava ótimo. Era uma barreira de guitarras por todos os cantos, mas era apenas a guitarra de Keith. Ele é surpreendente. Ele tem toda a loucura que os Pistols tinha no começo.”
Lydon explica o conceito de algumas outras composições: “‘Religion’ eu escrevi quando estava no Sex Pistols, mas eles se recusaram a gravar. ‘Low Life’ é sobre Sid Vicious e como ele se tornou o pior tipo de rock’n’ roll star. ‘Annalisa’ eu escrevi após ler uma história inacreditável de um velho casal alemão que morava em uma fazenda e que acharam que sua filha estava possuída pelo demônio e por causa disso a trancaram em um quarto até ela morrer de fome. Fiquei chocado em ver que esses métodos do século XV ainda possam existir. “
Mas o mais divertido para o vocalista foi o sucesso de “Public Image”: “a gravadora disse que o disco não tinha um hit e ficaram surpresos quando ela chegou ao nono posto na parada inglesa. Isso me fez ver como os executivos não conseguem reconhecer uma boa canção.”
O disco foi atacado por não ser rock and roll e extremamente pretensioso. A banda respondia dizendo que eles queriam ir além do básico. A intenção básica de Lydon era perder os fãs dos Pistols, deixar o Rotten para trás. “Não existe coisa mais datada que punk. Os fãs cuspiam em mim, me chamavam de traidor do movimento. Eu mandava comerem merda e morrerem. Quem precisa daquele som ainda? Eu queria evoluir como músico e não ficar parado no tempo, sendo o ícone de um movimento que já estava morto.”
First Issue fez relativo sucesso na Inglaterra. E se chocou os ingleses com um som totalmente diferente, iria chocar muito mais com o próximo lançamento: Metal Box, um álbum com três EPs de doze polegadas e em 45 RPM. Mas isso é assunto para outra coluna.
Discografia
Public Image Limited/First Issue (1978)
Metal Box (1979)
Second Edition (1980)
Paris Au Printemps (1980)
Flowers of Romance (1981)
Live in Tokyo (1983)
Commercial Zone (1984)
This is What You Want…This is What You Get (1984)
Album (1986) (no formato CD o disco chama-se “CD”)
Happy? (1987)
9 (1989)
Greatest Hits… So Far (1990)
That What Is Not (1992)
Plastic Box (1999)