Na primeira metade de década de 80, o mundo inteiro foi surpreendido por uma canção acompanhada pelo som de um acordeão, uma voz grave, e uma salva de palmas. Essa música tinha o singelo título de “This is The Day” e virou um hit instantâneo. No Brasil, era executada nos buracos mais alternativos e tornou-se, diga-se de passagem, uma espécie de hino das casas gays do país todo (não quero cometer nenhuma injustiça quanto à preferência sexual de qualquer um e apenas salientar que a letra música não fazia nenhuma referência ao assunto). O cérebro por trás de tudo isso era um jovem recluso chamado Matt Johnson, que fez o disco “Soul Mining” ser eleito como um dos grandes lançamentos de 1983. Após o sucesso comercial, Matt mudou radicalmente de estilo, tocando com vários músicos (entre eles Johnny Marr, guitarrista dos Smiths). O The The sempre foi Matt Johnson. Conheça um pouco mais dessa peculiar banda.
Em 1979, tentou uma nova banda, chamada Marble Index (mesmo nome de um disco da cantora Nico, que participou do primeiro disco do Velvet Underground), mas foi logo desfeita. Ao conhecer o tecladista Keith Laws, que já tinha um sintetizador, fundaram o The The. Conseguiram abrir shows para o Scritti Politti, e ganharam um contrato da obscura gravadora 4AD (que ficaria famosa depois por ser o selo dos Cocteau Twins e dos Pixies), e em 1980, debutaram com o single Controversial Subject. No ano seguinte, sem Keith e por obrigação contratual lançou seu primeiro LP, Burning Blue Soul apenas com seu nome. Também acabaria encontrando tempo para ser guitarrista da banda The Gadgets, além de inserir uma música na compilação da Some Bizarre.
Zeke lembra bem da composição de “This is The Day”: “O Orange já estava praticamente no fim e me lembro que Matt me procurou dizendo ser um fã da banda e, em especial, do meu estilo de tocar bateria. Conversamos e acabou me convidando para trabalharmos. Ele me mostrou a letra da canção e disse que queria uma melodia bem leve, alegre. Pensei em uma espécie de “chanson” francesa, com acordeão, que desse uma cor diferente. E foi assim que tudo aconteceu.”
O estouro acabou chamando a atenção da crítica que teceu mais e mais elogios ao disco. Neil Tennant, dos Pet Shop Boys, à época jornalista, considerou-a uma das grandes canções pop da década. “A primeira vez que a ouvi, fiquei entusiasmado. Era uma espécie de valsinha, com uma voz grave e uma letra otimista. Eu já estava começando a ficar farto daquelas bandas góticas e depressivas que assolavam a Inglaterra. “This is The Day” era completamente o oposto. Falava de sol, de alegria, uma grande inspiração. Prometi que se um dia tivesse minha própria banda, seguiria o estilo.” Matt disse que ficou surpreso com o repentino e avassalador sucesso: “Eu sempre sonhei em fazer sucesso, mas não tanto. “Uncertain Smile” também teve uma grande execução nas rádios. A gravadora exigia que saísse em excursão para promover o álbum, mas eu não tinha nem banda! Saí desesperado atrás de músicos”. Os excessivos compromissos acabaram deixando-o seriamente doente e por anos sumido do mundo musical, até sua volta em 1986, com o disco Infected. Já respeitado, teve convidados do calibre de Art of Noise e Neneh Cherry. Além de ser musicalmente diferente, as letras ficaram um pouco mais pesadas, e teve um lançamento de vídeo conjunto.
“Meu debilitado estado físico acabou me proporcionando outra visão do mundo que me cercava. Quando puder voltar a trabalhar, queria falar mais da minha visão da Inglaterra e sua importância (ou não) para o mundo.” Johnny Marr, que seria um dos inúmeros integrantes do The The, após sua saída dos Smiths, participou do disco Mind Bomb de 1989 e lembra do perfeccionismo do amigo: “quando deixei os Smiths fiquei um tempo sozinho, mas logo fui tocar nos Pretenders. Gostei muito de Chrissie, mas desejava outros caminhos. Eu já era fã do The The, e quando ele me chamou para fazermos um novo disco, topei na hora. Foi um grande prazer trabalhar com Matt no estúdio. Apesar de obcecado pela perfeição, dava bastante liberdade para que eu tocasse minha guitarra e me agradou muito, pois me lembrei imediatamente dos primeiros anos com os Smiths, quando eu e Morrissey ainda não ficávamos horas e horas discutindo, meses antes do grupo terminar. Me senti muito bem trabalhando com ele.” O disco saiu no trabalho, assim como os dois discos seguintes e a boa notícia é que todos foram relançados recentemente em edição remasterizada, além de uma bela coletânea chamada 45 RPM: The Singles of The The. Uma excelente opção para quem não conhece o som e que merece ser conferida. Fiquem com a letra de “This is The Day” Um abraço!
You pull back the curtains You could’ve done anything You pull back the curtains This is the day
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