Esta talvez seja a banda mais desconhecida de todas que escrevi até agora e por um simples motivo: é quase impossível conseguir material deles. O Let’s Active nunca teve todos seus trabalhos lançados em CDs e os LPs são verdadeiros tesouros arqueológicos. Para conseguir completar a coleção, fiquei anos e anos procurando em lojas virtuais do mundo todo. Além de não serem baratos, sofri muito para tê-los em minhas mãos. Confesso ter os quatro discos, sendo que um deles apenas em cassete. Acho que a única pessoa que conheço ter a discografia completa da banda é o Carlos, isso porque (modéstia à parte) quando eu conseguia algo, e era possível, pedia duas cópias. Um destes grupos esquecidos e que teve apenas um quase hit “Every Word Means No”, canção que pode ser achada em uma coletânea bacana de power pop chamada “Poptopia! Power Pop Classic of The 80’s”. A importância maior se reside em seu líder Mitch Easter, um renomado músico e produtor, responsável pelos primeiros trabalhos do R.E.M., Suzanne Vega, entre outros. No final da matéria, vocês poderão conferir todos os discos em que Mitch se meteu e o que fez em cada um. Eu avisei que 2003 prometia… Mais um parceiro ilustre para esse humilde site. A bola da vez é o selo inglês Voiceprint, que é representado no Brasil por Fabio Golfetti, do Violeta de Outono. Um selo totalmente alternativo em estilos musicais, mas de tremendo bom gosto. Quando a coluna estiver chata, antes de sair, visite o site da Voiceprint. Além de ídolo, Fabio é um grande amigo e agora patrocinador. Obrigado Fabio! Depois de explicada mais uma parceria, vamos falar do Let’s Active. Essa é uma daquelas bandas de que ouvi falar apenas uma vez e sonhei por anos à fio em ter algo. A informação básica é que se tratava de um grupo que fazia um som similar ao do R.E.M. no começo de carreira (minha fase preferida do grupo) e que seu líder Mitch Easter era muito amigo de Michael Stipe e companhia e produzira algum de seus trabalhos. Mas como obter algum exemplar? Graças ao bom Deus inventaram a internet e as lojas virtuais. O resto da história é simples: garimpo puro.
Nascido na Carolina do Norte, na cidadezinha de Winston-Salem, lar do seu estúdio Drive-In, criou o Let’s Active em 1981. Sua primeira banda havia sido The Sneakers, com Chris Stamey, futuro integrante do The dB’s e que quando seguiu carreira solo chamou o antigo colega para ajudar. Antes de gravar algo com o grupo, investiu como produtor e sua primeira cria foi o sensacional single de estréia do R.E.M., “Radio Free Europe”, que saiu primeiro pelo micro selo Hibtone, antes da banda assinar com a I.R.S. Easter continuou a parceria com o R.E.M. e assinou também a produção do EP Chronic Town (que hoje está disponível apenas como bônus em CD do disco Dead Letter Office) e os discos Murmur e Reckoning. Peter Buck lembra bem da parceria com Mitch: “ele é uma pessoa extremamente atenciosa e paciente. Ficávamos horas discutindo timbres para a minha guitarra, testando várias afinações e efeitos. Acho muito justo afirmar que ele ajudou a forjar o nosso som, dando uma alquimia para a banda.”. Michael Stipe também é outro fã confesso: “Mitch me ajudou muito, pois sempre fui muito inseguro. Eu me lembro que quando estávamos gravando ‘Radio..’ que minha voz quase não saía de tanta vergonha que eu ficava. Ele parava e pedia para que fechasse os olhos e me concentrasse na letra, explicando que a voz sairia com mais naturalidade se eu relaxasse. Foi um grande conselho e o carrego até hoje.” Mitch era um apaixonado por gravação desse menino. “Em 1972 foram lançado os primeiros gravadores Teac que permitiam realizar overdubs. Tão logo Chris (Stamey) conseguiu comprar um, nos trancamos no porão de casa para aprendermos a usá-lo. Nós simplesmente deixamos nosso grupo pra lá.” Após tentar, sem sucesso, trabalhar em um estúdio em Nova York, Mitch acabou retornando para Winston-Salem e montou o Drive-In na garagem da casa de seu pais. Logo, o local viraria o lar de inúmeras bandas interessadas em gravar as primeiras músicas. “O estúdio fez fama rápido e, embora, eu tivesse pouco equipamento e quase nenhum conhecimento técnico, era muito simpático a todos. Naquela época não havia ainda uma cena e fiz boas amizades.” Mitch conta que começou a pensar seriamente em montar uma banda. “Eu tinha 26 anos e ficava maluco de não ter uma carreira no meio musical.” Na primeira formação, estavam presentes a baixista Faye Hunter, sua namorada e a baterista Sara Romweber. O nome Let’s Active surgiu através de um slogan em inglês tirado de uma camiseta japonesa. “Me agradava a idéia de sermos um trio.” Segundo Mitch, a banda só se tornou real após produzir Chronic Town, do R.E.M. “Acabei sendo convidado por eles para abrir um show em Atlanta no 688, duas semanas depois. Imaginávamos que poderíamos fazer um show junto e fizemos nossa estréia no dia 13 de novembro de 1981. Foi legal. Na noite seguinte, tocamos com o Love Tractor no clube 40 Watt, em Athens.” O grupo estava abrindo a turnê do R.E.M., quando a I.R.S. ofereceu um contrato ao trio. “Não tenho certeza se realmente gostavam de nós, mas eles tinha ficado impressionados com o fato de eu ter me tornado um produtor com alguma fama. Em todo caso, aceitei, pois com eles por trás teria a vida facilitada.” O primeiro lançamento seria EP Afoot que continha “Every Word Means No”. O disco e a canção ganharam status “cult” nas college radio americanas e a banda acabou virando uma espécie de querido dos universitários, assim como acontecia com o R.E.M. Segundo Easter “Afoot era apenas uma demo, mas eles gostaram e quiseram lançar um EP, até porque o custo era bem baixo. Pegamos nosso pequeno adiantamento para remixarmos em Nova York, com Scott Lit.” O disco era basicamente gravado ao vivo. Apesar de modesto sucesso comercial, Afoot chamou a atenção de alguns devotados fãs e jornalistas. O próximo passo era gravar um LP, que seria Cypress. O disco foi novamente gravado no Drive-In, tendo a companhia de Don Dixon. Easter podia, enfim, trabalhar mais as canções, fazendo um pop mais refinado e gastando mais nos arranjos. “Eu estava feliz porque algumas composições como ‘Waters Part’ tinha sido bem recebida. Cypress era um disco realmente gravado, mas algumas coisas deviam ter sido limadas. Na época, achava que alguns erros dariam um certo charme ao trabalho, mas hoje não concordo, embora seja nosso melhor disco.” O trio original não sobreviveu ao final da turnê promocional. “Para mim, a formação original a essência do Let’s Active e fiquei chocado quando Sara foi embora. Ter um trio com duas mulheres era bom para nossa imagem e sempre sonhei em ter uma banda com uma formação estável. Nós háviamos crescido juntos e quando elas saíram, a magia acabou e as próximas formações eram mais convencionais, já que eram músicos mais experientes, mas sem o mesmo carisma.” Sara acabou indo tocar com o Snatches of Pink. Em 1986, convidou os bateristas Eric Marshall e Rob Ladd, além da versátil Angie Carlson (com quem acabaria casando) para as gravações de Big Plans for Everybody. Fave ajudou o amigo, tocando em algumas canções. Mais uma vez, a banda virou um sucesso para bem poucos. “A química já era outra, era um bom disco mas faltava algo”, conta Mitch, que fez uma excursão com vários músicos. Em 1988, Mitch queria lançar mais um disco. A banda contava com Angie Carlson na segunda guitarra e teclado, John Heames, no baixo e Eric Marshall, na bateria. Mas a banda, segundo Mitch, não existia mais. “Na prática, éramos apenas eu e Eric, com uma pequena colaboração de Angie.” Para o derradeiro disco, Every Dog Has His Day, foi chamado John Leckie, que foi o responsável pela produção dos primeiros álbuns do Simple Minds, além de XTC, Fall, PiL… Leckie era uma escolha inusitada, já que Easter era um produtor requisitado. “A I.R.S. ficava me oferecendo produtores que me deixavam deprimido. Alguns tinham famas de serem bons para trabalharem, o que não era verdade. Além disso, eu era um produtor de algum renome e sabia que iria ter problemas. Mas a I.R.S. queria alguém e eu acabei sugerindo por acaso John Leckie. E eles aceitaram.” Para trabalhar com Leckie, deixaram o pequeno Drive-In e foram para Gales trabalhar no lendário estúdio Rockfield e mixaram as faixas no Abbey Road. “Fizemos algumas coisas na minha casa para diminuirmos os custos das gravações. Assim, gravamos as bases no Rockfield, gravamos os vocais e overdubs no Drive-In e mixamos no Abbey Road. John é uma ótima pessoa para se trabalhar, bem agradável, deixava a atmosfera leve e tudo correu bem. Porém, houve alguns problemas com os engenheiros. Eles não sabiam como gravar e mixar uma banda norte-americana e algumas faixas ficaram bem distantes do que eu queria.” Easter disse que ficou surpreso e extasiado quando encontrou o ex-vocalista do Led Zeppelin, em Gales, e descobriu que ele era grande fã do Let’s Active e que havia elogiado suas canções em algumas entrevistas. Mas o disco fracassou e logo a banda terminaria. “Comecei a ter atritos com Angie e com a I.R.S. O disco não foi bem recebido por crítica e fãs e a gravadora não nos despedia, mas também não nos ajudava.” A gota d’água para ele foi após um show em 1990, num ginásio em Maryland. “Quando vi que estávamos tocando para garotinhos ricos e mimados disse comigo mesmo ‘é isso aí, acabou'”. E a banda chegava ao fim. Dois adendos: os discos foram relançados em CDs, sendo Afoot e Cypress em uma edição dois-em-um. E na trilha sonora do seriado Friends há uma versão de “Every Word Means No” com o grupo Smash Mouth. Deixo vocês com a discografia do grupo e algum dos trabalhos de Mitch Easter como produtor e músico de estúdio. Um abraço e até a próxima coluna. Discografia Afoot EP (IRS) – 1983 Outroa trabalhos de Mitch Easter Discos em que atuou como músico, tocando diversos instrumentos ou apenas como produtor, incluindo os álbuns com o Let’s Active… destacam-se trabalhos como R.E.M., Suzanne Vega, The Connels, Ride, Pavement e Wilco. Pela ordem estão: nome do grupo ou artista, álbum e o que fez… Eis a lista infindável… Alaska – “Alaska” – guitarrista COLETÂNEAS Mitch também trabalhou em várias coletâneas. Aqui está a relação… Various Artists – “The Water Music Compilation Album”- Perfomer |