415 – The Electric Flag

The Electric Flag, An American Music Band, era assim que se apresentava uma das bandas mais interessantes dos anos 60, musicalmente falando. Liderada pelo excepcional guitarrista Mike Bloomfield – de longa ficha corrida – e pelo velho amigo de Jimi Hendrix na bateria, Buddy Miles, o Electric Flag deixou alguns discos obrigatórios para quem curte psicodelismo, blues e r&b. E entre as curiosidades aparece no segundo LP do combo um guitarrista convidado de nome Sivuca. Seria o nosso Sivuca? Bom, para saber isso, só lendo…


da esquerda para a direita: Nick Gravenites, Marcus Doubleday, Mike Bloomfield, Harvey Brooks, Buddy Miles, Barry Goldberg e Peter StrazzaOs anos 60 escondem grandes tesouros, preciosidades que se tornaram esquecidas no novo século. Entre elas, se destaca um projeto liderado pelo guitarrista Mike Bloomfield: The Electric Flag.

O grupo, da esquerda para a direita: Nick Gravenites, Marcus Doubleday, Mike Bloomfield (com a bandeira americana na mão), Harvey Brooks, Buddy Miles, Barry Goldberg e Peter Strazza.

Michael Bernard Bloomfield foi um dos mais renomados músicos de sua época, guitarrista de blues excepcional e que abrilhantou discos de Bob Dylan, The Paul Butterfield Blues Band, além de vários trabalhos ao lado do amigo Al Kooper. Tragicamente conheceu a morte no dia 15 de fevereiro de 1981, com apenas 37 anos em circustâncias estranhas, já que foi achado morto dentro do seu carro, provavelmente de overdose de heroína.

Bloomfield já era um guitarrista de renome por seus trabalhos com Dylan – notadamente em Highway 61 Revisited – e com Paul Butterfield, onde era praticamente o “dono” do grupo, com sua técnica impecável e impressionante versatilidade com a guitarra, quando resolveu que era hora de montar uma banda com sua própria visão.

Nascia assim, a idéia de ter um projeto ao lado dos amigos Barry Goldberg (órgão), Nick Gravenites (voz e composições), Harvey Brooks (baixo) e Buddy Miles (bateria).

A idéia era misturar o som das big bands das décadas de 30 e 40, blues, r&b, o soul da gravadora Stax (Otis Redding, Steve Crooper, Booker T & the MGs), country com psicodelismo. Ou nas próprias palavras de Mike: “The Electric Flag é um banda de música americana. Música americana não é, necessariamente, música diretamente da América. Eu penso que é como a música que você no ar, nas ruas: blues, country, soul, rock, música religiosa, tráfico, multisão, sons urbanos e sons rurais, sons de pessoas e silêncio.”

Miles era ainda um jovem desconhecido, baterista de apenas 19 anos e que ainda não poderia ser associado a Hendrix, já que o guitarrista também não havia explodido ainda.

O baterista havia sido recomendado pelo baixista Brooks e era membro da banda de Wilson Pickett.

Para dar mais corpo ao som a banda resolveu integrar o saxofonista Peter Strazza e o trumpetista Marcus Doubleday na formação.

Graventies era a segunda opção nos vocais, já que Mitch Ryder declinara do convite.

O grupo rapidamente começou a ensaiar tendo como empresário o truculento e poderoso Albert Grossman, que controlava a carreira de Bob Dylan.

A banda logo se tornou uma sensação e foram convidados para tocar no Monterey Pop Festival, no sábado, 17 de junho, em dia que começou com o Canned Heat e se encerrou com Otis Redding.

Os artistas desse dia foram:

Canned Heat
Big Brother and the Holding Company
Country Joe and the Fish
Al Kooper
The Butterfield Blues Band
The Electric Flag
Quicksilver Messenger Service
Steve Miller Band
Moby Grape
Hugh Masekela
The Byrds
Laura Nyro
Jefferson Airplane
Booker T. & the M.G.s
Otis Redding

O grupo porém tinha problemas, já que Grossman não se dedicava com muito afinco ao combo. Mike, por sua vez, já começava a usar heroína e sofria com alguns problemas de saúde, especialmente uma insônia crônica. Aliado a tudo isso, um ego inflado pelo status de gênio da guitarra. Era muito para um garoto de apenas 23 anos e ele se retirou para San Francisco.

Na cidade, Grosmman os incluiu num projeto cinematográfico, The Trip, estrelado por Peter Fonda, Dennis Hopper, dirigido e produzido por Roger Corman e escrito por Jack Nicholson.

A primeira opção para a trilha-sonora era o grupo de Gram Parsons, International Submarine Band, logo rejeitado pelo diretor.

Assim, Bloomfield e seu grupo estavam encarregados de escrever a música. Para criar texturas, o guitarrista convida o tecladista Paul Beaver, que pela primeira vez introduz um sintetizador Moog em um disco. As gravações foram feitas em apenas 10 dias e trazia um leque do sons de 1967: do rock ao free jazz, passando pelo blues e muita experimentação.

O disco trazia as seguintes composições:

Lado A

1. Peter’s Trip
2. Psyche Soap
3. M-23
4. Synesthesia
5. Hobbit
6. Fewghh
7. Green and Gold

Lado B

8. Flash, Bam, Pow
9. Home Room
10. Practice Music
11. Fine Jung Thing
12. Senior Citizen

Algumas edições chegam a colocar 18 músicas no CD, com ordem diferente:

1. Peter’s Trip 2:38
2. Psyche Soap 0:55
3. M-23 1:14
4. Synesthesia 1:46
5. Hobbit 1:46
6. Fewghh 1:02
7. Green and Gold 2:50
8. Flash, Bam, Pow 1:31
9. Home Room 0:53
10. Practice Music 1:27
11. Fine Jung Thing 7:25
12. Senior Citizen 2:57
13. Home Room 0:52
14. Peter Gets Off 2:23
15. Practice Music 1:25
16. Fine Jung Thing 7:25
17. Senior Citizen 2:56
18. Gettin’ Hard 4:02

O trabalhou serviu com bom laboratório, a despeito das módicas vendagens. O grupo começava a ganhar corpo, com ensaios, apesar de quase todos os integrantes estarem com sérios problemas ligados à heroína.

Ainda assim, “Flash, Bam, Pow”, seria usada, anos mais tarde, no novo clássico filme dos anos 60, estrelado pelo trio Peter Fonda, Jack Nicholson e Dennis Hopper, Easy Rider.

Em 1968, lançam o aguardado verdadeiro disco de estréia, com músicas onde davam vazão às idéias sonoras de Bloomfield.

A Long Time Comin’ é um belo registro perdido dos anos 60, uma das obras que deve se resgatada.

Para as gravações, um verdadeiro arsenal de músicos foram convidados, entre eles um guitarrista de nome estranho e que estranhamente não é comentado em vários locais: Sivuca.

Sivuca é nada menos que o sergipano Severino (Sivuca) Dias de Oliveira, músico renomado em todo planeta e que vivia em Nova York nessa época. Mais conhecido como sanfoneiro, Sivuca era um músico extremamente versátil e completo e no álbum contribuiu tocando guitarra.

O disco foi editado em março de 1968 trazendo as seguintes músicas:

Lado 1

1. “Killing Floor” (Chester Burnett, Howlin’ Wolf) – 4:11
2. “Groovin’ Is Easy” (Nick Gravenites) – 3:06
3. “Over-Lovin’ You” (Mike Bloomfield, Barry Goldberg) – 2:12
4. “She Should Have Just” (Ron Polte) – 5:03
5. “Wine” (Traditional) – 3:15

Lado 2

1. “Texas” (Mike Bloomfield, Buddy Miles) – 4:49
2. “Sittin’ in Circles” (Barry Goldberg) – 3:54
3. “You Don’t Realize” (Mike Bloomfield) – 4:56
4. “Another Country” (Ron Polte) – 8:47
5. “Easy Rider” (Mike Bloomfield) – 0:53

Ao ser editado em CD, trazia as seguintes faixas bônus:

1. “Sunny” (Bobby Hebb) – 4:02
2. “Mystery” (Buddy Miles) – 2:56
3. “Look into My Eyes” (Harvey Brooks, Buddy Miles) – 3:07
4. “Going Down Slow” (James Oden) – 4:43

A Long Time Comin’ traz pérolas escondias como a deliciosa “Groovin’ Is Easy” e a linda balada “Sittin’ in Circles”.

O lançamento tragicamente significou, quase ao mesmo tempo, a dissolução da banda original.

A falta de dinheiro, as baixas vendagens (o disco ficou apenas na 31ª posição na parada) e o alto consumo de bebida e drogas pesadas implodiram o relacionamento de músicos tão talentosos, mas que não conseguiam mais conviver juntos.

Dessa maneira, Bloomfield deixa o grupo, completamente exausto e começaria uma irregular e errática carreira alternando discos solos e projetos, deixando com o baterista Buddy Miles a direção musical do Flag restante. A banda também perdia o tecladista Barry Goldberg.

Sem eles, Miles direciona para um som mais próximo ao soul que tanto amava.

Ainda no mesmo ano é editado The Electric Flag: An American Music Band e para não deixar dúvidas Buddy Miles aparece sozinho na capa do LP.

Ele trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. Soul Searchin’ 2:59
2. Sunny 3:58
3. With Time There Is Change 3:16
4. Nothing To Do 4:21

Lado B

1. See To Your Neighbor 2:34
2 . Qualified 2:59
3 . Hey Little Girl 2:37
4 . Mystery 2:55
5 . My Woman Hangs Around the House 3:14

Quando lançado em CD trazia as seguintes faixas bônus:

10. Goin’ Down Slow 4:44
11. Look Into My Eyes 3:07

O disco marcaria o fim da banda, totalmente fragmentada internamente e com poucas chances de sucesso. Chegava ao fim uma das bandas mais originais da época e uma das primeiras a introduzir metais em sua formação fixa. O Eletric Flag ainda teria uma tentativa frustrada de retorno, em 1974, inclusive com a volta de Bloomfield.

The Band Kept Playing foi o último esforço, embora a volta tenha sido muito mais pela diversão e para ganhar uns trocados do que exatamente retomar a carreira, abortada com tantos problemas.

Produzido pelo lendário Jerry Wexler, mostrava um grupo com boas composições, mas já sem forças ou mesmo coração no que faziam. Era o derradeiro adeus.

O disco trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. Sweet Soul Music 3:56
2. Every Now and Then 3:45
3. Sudden Change 3:56
4. Earthquake Country 4:03
5. Doctor Oh Doctor (Massive Infusion) 5:22

Lado B

1. Lonely Song Naftalin 3:59
2. Make Your Move 4:20
3. Inside Information 3:40
4. Talkin’ Won’t Get It 4:12
5. The Band Kept Playing 5:12

Com a morte de Bloomfield, em 1981, qualquer volta ficaria sem sentido. Ainda assim, nos dias 28 e 29 de julho, 2007, para comemorar os 40 anos do festival de Monterey, Gravenites, Goldberg e Hunter (que havia tocado no álbum de 1974) se associaram aos músicos do Tower of Power e The Blues Project para uma última homenagem.

No dia 26 de julho de 2008 morre o grande Buddy Miles, aos 60 e com ele boa parte da mística restante desse grupo que foi pouco ouvido e merece ser apreciado com mais calma.

Em 1983 foi editado Groovin’ Is Easy, um disco póstumo, que teve vários nomes em outras reedições, trazendo outtakes de 1974 e performances ao vivo de 1968: I Found Out (2000), The Electric Flag: Live (2000), I Found Out (2000), Funk Grooves (Classic World Productions, 2002), I Found Out (Dressed To Kill, 2005) e I Should Have Left Her (Music Avenue, 2007).

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

The Trip “Musical Score Composed and Performed by The Electric Flag, An American Music Band” (1967)
A Long Time Comin’ (1968)
The Electric Flag: An American Music Band (1968)
The Band Kept Playing (1974)
Old Glory: Best of the Electric Flag, An American Music Band (1995)
Groovin’ Is Easy (1983)
I Found Out (2000)