Eles foram um dos expoentes do gênero folk punk, uma mistura de música irlandesa com a força do punk que dominou o final dos anos 70. Liderado por um dos mais feios personagens da música, Shane MacGowan, os Pogues tiveram seu começo punk, como os Mamilos Eretos, banda que teve um single produzido por Paul Weller, do The Jam e até Joe Strummer como vocalista temporário, em um dos vários sumiços de Shane devido ao alcoolismo.
Poucas bandas foram tão criativas com dois ritmos que aparentemente combinam como água e vinho. Afinal, o folk é uma música de raiz, enquanto o punk é contemporâneo. Mesmo a mistura de acordeões, violinos e outros instrumentos era muito raro no punk.
Mas para Shane MacGowan, um inglês nascido em Kent no dia 25 de dezembro de 1957, essa era uma mistura possível. Filho de uma irlandesa chamada Therese, Shane nasceu na casa dos avós, durante as férias. O gosto musical veio através dos pais, que cultivavam o amor pelo pelo jazz, blues e country, especialmente da mãe, cantora e que já havia sido modelo em Dublin.
Três meses após nascer Shane, a família voltou para Puckhaun, no condado de Tipperary, na Irlanda. Seguindo os passos da mãe, Shane rodeava os parentes para verem tocarem instrumentos como violinos, banjos, acordeões. Isso marcaria para sempre sua vida.
Aos seis anos, mudou-se com a família para Londres e lá começou a descobrir seus dotes musicais. Shane começava a mostrar habilidade para decorar poemas inteiros, para espanto dos pais e dos professores.
Aos 14 anos, ficou em segundo lugar em um concurso de poesia de sua escola. Só não foi mais adiante pois foi pego com drogas. Shane passava o tempo fazendo bicos e perambulando pelas ruas até ir trabalhar em um loja de discos chamado “Soho Records”.
Em 1976, aos 18 anos foi sacudido pelo punk dos Sex Pistols e desobriu o que queria fazer. Depois de assistir os Pistols passou a ser um habitué dos shows de punk da região. Nessa época formou sua primeira banda, os Mamilos Eretos. Um dos integrantes era Shanne Bradley (depois do The Men They Couldn’t Hang).
Lançaram o primeiro single, “King Of The Bop”, em 1976 e foi produzido por Stan Brennan. Nessa época servia como banda suporte para Clash e Jam. Paul Weller gostou tanto deles, que produziu o single “Happy Song”. A banda terminou em 1980 e deixou um disco para a posteridade: Only The End Of The Beginning.
Durante os Mamilos, Shane começou também a tocar na banda Millwall Chainsaws, de Spider Stacey, futuro integrante dos Pogues.
Por volta de 81, era parte de uma banda sem nome e que era liderado por um professor da escola. Nessa época, tocava baixo, Jem Finer, guitarra e Ollie era o baterista.
Com o tempo começou a tomar mais parte com a música irlandesa tradicional do que com o punk. Noite após noite, Shane, Spider e Jem sentavam-se em seu apartamento e ouviam o grupo tradicional irlandês Dubliners. Uma noite, Shane e Ollie pediram a um dono de bar que deixassem tocar música tradicional irlandesa no bar. Foram aceitos. Em duas semanas debutaram com músicas irlandesas de protesto. No primeiro show debutaram como New Republicans.
Após esses shows, Shane resolveu montar uma banda de músicos irlandeses. Decidira que o começo seria para tocar apenas música tradicional. Junto a Jem começaram a procurar alegremente integrantes. Nessa época escreveu sua primeira canção, “Streams of Whiskey”.
Em 82, acharam mais quatro membros. O primeiro foi o baterista Andrew Ranken, que tocava em uma banda de Cajun, ritmo de New Orleans. Shane lembrou de James Fearnely, que havia tocado em sua banda punk e o chamou. James achou piada ter que aprender a tocar acordeão, mas acabou por aprender o instrumento.
Em 4 de Outubro resolveram fazer um show de estréia. Como não conseguiam um nome, aceitaram o proposto por Spider Stacey, Pogue Mahone, que em gaélico significa “beije meu rabo”. Acharam perfeito e foram em frente. Com o tempo, resolveram diminuir o nome para Pogues.
Dentro de alguns meses começaram a ser a sensação de Londres misturando a música irlandesa com a fúria do punk.
Em 1984, debutaram com Red Roses for Me. No ano seguinte foi a vez de Rum Sodomy & the Lash. O disco em questão, If I Should Fall From Grace With God, de 1988, é o mais consistente e o favorito de boa parte dos fãs. A faixa título que abre o disco é o clássico Pogues.
Veja a letra em inglês e português:
If I should fall from grace with god
Where no doctor can relieve me
If I’m buried ‘neath the sod
But the angels won’t receive me
Let me go boys
Let me go boys
Let me go down in the mud
Where the rivers all run dry
This land was always ours
Was the proud land of our fathers
It belongs to us and them
Not to any of the others
Let them go boys
Let them go boys
Let them go down in the mud
Where the rivers all run dry
Bury me at sea
Where no murdered ghost can haunt me
If I rock upon the waves
No corpse can lie upon me
It’s coming up three boys
Keeps coming up three boys
Let them go down in the mud
Where the rivers all run dry
If I should fall from grace with god
Where no doctor can relieve me
If I’m buried ‘neath the sod
And still the angels won’t receive me
Let me go boys
Let me go boys
Let me go down in the mud
Where the rivers all run dry
TRADUÇÃO
Se eu caísse nas graças de Deus
Onde nenhum médico pudessse me aliviar
Eu seria enterrado embaixo da grama
Mas nenhum anjo iria me receber
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir deitar na lama
Onde os rios ficam secos
Essa terra sempre foi nossa
E foi a terra que orgulhava nossos pais
Pertencem a nós e a eles
E a ninguém mais
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir deitar na lama
Onde os rios ficam secam
Enterrado no mar
Onde nenhuma sombra de assassino poderá me assombrar
E se as rochas estão acima das ondas
Nenhum cadáver poderá deitar sobre mim
Estão vindo três meninos
Vindo três meninos
Deixe-os deitados na lama
Onde os rios ficam secos
Se eu caísse nas graças de Deus
Onde nenhum médico pudessse me aliviar
Eu seria enterrado embaixo da grama
Mas nenhum anjo iria me receber
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir garotos
Deixem-me ir deitar na lama
Onde os rios ficam secam
Mas também foi o auge de Shane com a bebida. Bebum inveterado, dono dos dentes mais podres do rock e tinha o costume de sumir durante dias e deixar a banda na mão. Nessa época, Joe Strummer (ele mesmo, a lenda do Clash!), excursionou com a banda que tanto admirava e tocava como vocalista principal e até cantava “London Calling” ou “I Faught The Law” para a audiência chorosa.
Shane ainda estava nesse disco e produziu o melhor disco de punk folk até hoje. Mesmo os trabalhos posteriores, como Peace and Love (que saiu no Brasil em vinil), são bons, mas longe da unidade deste álbum. Shane abandonou a banda em Waiting For Herb, cantando por Spider. A banda terminou em 1996, mas antes lançaram um último disco. O nome? Pogue Mahone, claro, com uma linda cover de “How Come”, dos Faces.
Shane continua na ativa em uma irregular carreira solo. Gravou de Louis Armstrong, “What a Beautiful World”, com Nick Cave, para o Natal de 1992, e chegou a fazer vocais no disco Stoned & Dethroned, do Jesus and Mary Chain. Deve sentir saudades dos Pogues. Mas quem não sente não é mesmo?
Discografia
Red Roses for Me (1984)
Rum Sodomy & the Lash (1985)
If I Should Fall From Grace With God (1988)
Peace and Love (1989)
Hell’s Ditch (1990)
Essential Pogues (1991)
Waiting for Herb (1993)
The Rest Of The Best (1994)
Pogue Mahone (1996)
Very Best Of The Pogues (2001)
Streams of Whiskey: Live in Leysin, Switzerland (2002)
Best Of (2003)
Ultimate Collection (2005)