O CONTO
VERSÃO RECENTE:
Para impressionar o Rei, com o objetivo de fazer o príncipe casar com a sua filha, um moleiro bastante pobre mente e diz que ela é capaz de fiar palha e transforma-la em ouro. O Rei chama a moça, fecha-a numa torre com palha e uma roda de fiar, e exige-lhe que ela transforme a palha em ouro até de manhã, durante três noites, ou será executada. Algumas versões dizem que, se ela falhasse, seria empalada e depois cortada em pedaços como um porco, enquanto outras não são tão gráficas e dizem que a moça ficaria fechada na torre para sempre. Ela já tinha perdido toda a esperança, quando aparece um duende no quarto e transforma toda a palha em ouro em troca do seu colar; na noite seguinte, pede-lhe o seu anel. Na terceira noite, quando ela não tinha nada para lhe dar, o duende cumpre a sua função em troca do primeiro filho que a moça desse à luz.
O Rei fica tão impressionado que decide se casar com ela, mas quando nasce o primeiro filho do casal, o duende regressa para reclamar o seu pagamento: “Agora dá-me o que me prometeste”. A Rainha ficou assustada e ofereceu-lhe toda a sua riqueza, se este a deixasse ficar com a criança. O duende recusa, mas por fim aceita desistir da sua exigência, mas cria outra exigência: se a Rainha conseguisse adivinhar o seu nome em três dias. No primeiro dia, ela falhou, mas antes da segunda noite, o seu mensageiro ouve o duende a saltar à volta de uma fogueira e a cantar. Existem muitas variações da canção, mas a mais conhecida é:
Hoje eu frito, amanhã eu cozinho!
Depois de amanhã será meu o filho da rainha!
Coisa boa é ninguém saber
Que meu nome é Rumpelstiltskin!
Quando o duende foi ter com a Rainha no terceiro dia, ela revela o nome dele, Rumpelstiltskin, e ele perde o seu negócio.
VERSÃO ORIGINAL TRADUZIDA:
Era uma vez um moleiro, que era pobre, mas tinha uma filha linda. E aconteceu um dia que ele chegou a falar com o rei, e lhe disse, para se dar importância:
– Eu tenho uma filha que sabe fiar palha para virar ouro.
O rei disse ao moleiro:
– Esta é uma arte que me agrada. Se a tua filha é tão prendada como dizes, traze-a amanhã para o meu castelo, desejo pô-la à prova.
Quando a moça foi levada à presença do rei, ele a levou para uma sala que estava cheia de palha, entregou-lhe roca e fuso e disse:
– Agora põe mãos à obra, e se até amanhã cedo não tiveres fiado esta palha em ouro, terás de morrer.
E o rei trancou a porta da sala com suas próprias mãos e deixou-a lá sozinha. A filha do moleiro se sentou sem poder fazer nada para salvar sua vida. Não tinha a menor idéia de com fiar a palha e convertê-la em ouro, e se assustava cada vez mais, até que por fim começou a chorar. Porém, de repente a porta se abriu e entrou um homenzinho:
– Boa tarde, senhorita moleira, por que estás chorando tanto?
– Ai de mim – disse a garota – tenho que fiar essa palha e convertê-la em ouro porém não sei como fazê-lo.
– O que me dás – disse o homenzinho – se fizer isso por ti?
– Meu colar, disse ela.
O homenzinho pegou o colar, sentou-se à roca e whirr, whirr, whirr três voltas e a bobina estava cheia.Pôs outra e whirr, whirr, whirr tres voltas e a segunda estava cheia também. E seguiu assim até o amanhecer, quando toda palha estava fiada e todas as bobinas cheias de ouro.Ao despertar o dia o rei já estava ali, e quando viu o ouro ficou atônito e encantado, porém seu coração se tornou mais avarento. Levou a filha do moleiro a outra sala, muito maior e cheia de palha e lhe ordenou que fiasse a noite inteira, se apreciava a vida.A garota que não sabia o que fazer, estava chorando quando a porta se abriu de novo. O homenzinho apareceu e disse:
– Que me darás se eu converter essa palha em ouro? – perguntou ele.
– O anel que levo em meu dedo – disse ela.
O homenzinho apanhou o anel e começou outra vez a girar a roca, e pela manhã havia fiado toda a palha e convertido em brilhante ouro. O rei ficou felicíssimo quando viu aquilo. Porém como não tinha ouro suficiente, levou a filha do moleiro a outra sala cheia de palha, muito maior que a anterior, e disse:
– Tens que fiar isso durante esta noite, se conseguires, serás minha esposa.
– “Apesar de ser a filha de um moleiro, ” pensou, ” não poderei encontrar esposa mais rica no mundo.”
Quando a garota ficou só, o homenzinho apareceu pela terceira vez, e disse:
– Que me darás se fiar a palha desta vez?
– Não tenho mais nada para te dar – respondeu a garota.
– Então me prometa, que se te tornares rainha, me darás teu primeiro filho.
– “Quem sabe se isso ocorrerá alguma vez. ” pensou a filha do moleiro.
E não sabendo como sair daquela situação, prometeu ao homenzinho o que ele queria e uma vez mais a palha foi convertida em ouro. Quando o rei chegou pela manhã, e encontrou todo o ouro que havia desejado, casou-se com ela e a preciosa filha do moleiro tornou-se rainha. Um ano depois, trouxe ao mundo um belo menino, e em nenhum momento se lembrou do homenzinho. Porém, de repente, veio ao seu quarto e lhe disse:
– Dá-me o que prometeste!!!
A rainha estava horrorizada e lhe ofereceu todas as riquezas do reino para deixar seu filho. Porém o homenzinho disse:
– Não, algo vivo vale para mim mais que todos os tesouros do mundo.
A rainha começou a se lamentar e chorar tanto que o homenzinho se compadeceu dela e lhe propôes:
– Te darei três dias – disse – se descobrires meu nome, então ficarás com teu filho.
Então a rainha passou toda a noite pensando em todos os nomes que tinha ouvido, e mandou um mensageiro a todos os cantos do reino para perguntar por todos os nomes que havia. Quando o homenzinho chegou no dia seguinte, ela começou: Gaspar, Melquior, Baltazar… Disse um atrás do outro, todos os nomes que sabia, porém a cada um o homenzinho dizia:
– Esse não é meu nome…
No segundo dia havia perguntado aos vizinhos seus nomes, e ela repetiu os mais curiosos e pouco comuns:
– Seria teu nome Pata de Cordeiro ou Laço Largo?
Porém ele disse:
– Esse não é meu nome…
Ao terceiro dia o mensageiro voltou e disse:
– Não encontrei nenhum nome. Porém, quando subia uma grande montanha ao final de um bosque, onde a raposa e a lebre se desejam boas noites, ali vi um homenzinho muito ridículo saltando, deu um cabriola e gritou:
“Hoje trago o pão, amanhã trarei cerveja
no outro terei o filho da jovem rainha.
Já estou contente de que nada aconteça
que Rumpelstiltskin me chamo.”
Podeis imaginar o contentamento da rainha quando escutou o nome. E quando logo em seguida chegou o homenzinho e lhe peguntou:
– Bem, jovem rainha, qual é meu nome?
A rainha primeiro disse:
– Te chamas Conrado?
– Não.
-Te chamas Harry?
– Não.
– Quem sabe teu nome é Rumpelstiltskin?
– Foi o diabo que te contou isso, foi o diabo que te contou isso !!! – gritou o homenzinho, e de raiva deu uma patada tão forte com o pé direito no chão, que se afundou até a cintura. Então, na sua fúria, ele agarrou o pé esquerdo com as duas mãos e rasgou-se a si mesmo em duas metades.
FIM
SOBRE O CONTO
O conto foi coletado pelos Irmãos Grimm e publicado pela primeira vez em 1812 na coletânea Contos de Grimm, sendo revisado em edições posteriores. O nome Rumpelstilzchen é de origem alemã. Rumpelstilt ou Rumpelstilz era o nome de um tipo de duende, também chamado de pophart ou poppart, que faz barulhos de chocalho em tábuas.
Como em toda história dos Grimm, há uma lição de moral ao fim da saga, mostrando a importância da honestidade e da boa-fé.Aprendemos várias lições com este conto, tais como: que não se deve cantar vitória antes da hora, porém, a maior lição que podemos tirar deste conto, é que o trabalho de tecer, é mais externo, ou seja, preciso do outro para fazer isto, mais que propriamente de nós mesmos, mas que não podemos também, deixar este trabalho completamente aos outros, mas é um trabalho de colaboração,com isto, chegamos por fim a conclusão de que o outro que me ajuda a tecer meu fio de ouro, não é meu inferno, mas meu paraíso, pois me ajuda no processo de maturidade e discernimento humano.
No conto aparecem diversos temas recorrentes em contos de fadas como as três provas, a tarefa impossível, o changeling, e a barganha difícil. Também há várias perspectivas sobre o papel da mulher na sociedade da época, e a forma como ela se submetia ao poder patriarcal, tanto no seu casamento arranjado pelo pai como tendo que se submeter às ordens do rei ou aos caprichos do duende. A presença feminina é quase ausente, a figura materna não aparece inicialmente, a não ser pelo anel de herança, único bem precioso que a jovem tem da mãe.
Fontes: