Em arquitetura o estilo gótico é caracterizado pelo arco de ogiva. Este estilo apareceu na França nos fins do século XII e expandiu-se pela Europa Ocidental, mantendo-se até a Renascença, ou seja, até o século XIV, na Itália, e até o século XVI ao norte dos Alpes. Moore definiu a arquitetura gótica como um "sistema de abóbadas, cuja estabilidade era assegurada por um equilíbrio perfeito de forças". Esta interessante definição é infelizmente incompleta, pois nem sequer cita os arcos de ogiva. Mas a verdade é que, se este elemento é fundamental no estilo gótico, aparece também noutros estilos, assim como o arco de volta inteira surge igualmente nos edifícios góticos.
Durante o período românico, o arco de ogiva aparece principalmente nos lugares onde existe forte influência sarracena. Os arquitetos da catedral românica de Monreale, utilizaram-no freqüentemente. O românico espanhol, e mesmo o provençal, empregaram o arco de ogiva. Por outro lado, num edifício tão gótico quanto a catedral de Chartres, as janelas da clarabóia da nave são de volta inteira, salvo nas suas subdivisões, assim como os arcos diagonais da Notre-Dame de Paris. O arco de ogiva não é pois, tão característico do gótico como geralmente se pensa.
A definição de Moore não menciona as paredes, mas somente os três elementos principais da construção. No gótico francês, uma vez chegado o seu máximo esplendor, a parede deixou de ser com efeito, elemento da estrutura. O edifício é uma gaiola de vidro e de pedra com as janelas que vão de um pilar a outro. Se a parede existe ainda, por exemplo, sob as janelas das naves laterais, é somente como defesa contra as intempéries. Tudo se passa como se as paredes românicas tivessem sido cortadas em secções e cada secção houvesse girado sobre si própria num ângulo reto para o exterior, de modo a formar contra-fortes.
No seu início o gótico francês baseava-se nos elementos estruturais definidos por Moore, porém essa definição só se aplicaria à elaboração do gótico francês não abrangendo a arquitetura gótica de outros países ou as fases ulteriores deste estilo na França.
A ABÓBADA
Dentre os elementos da arquitetura gótica este seria o mais importante. Os arquitetos góticos introduziram duas inovações fundamentais na construção de abóbadas. Em primeiro lugar para os arcos dobrados e os arcos dianteiros terem a mesma dimensão que os arcos cruzeiros, adotaram o arco de ogiva. O cruzamento das ogivas permite obter abóbadas com arcos da mesma altura. Numa abóbada que cubra um espaço retangular, a ogiva dos arcos formeiros tem de ser muito pronunciada. Por outro lado, os construtores góticos tentaram concentrar a pressão das abóbadas ao longo de uma linha única, em frente de cada pilar, no exterior do edifício. Os arcos góticos alteiam os arcos formeiros: em vez de os iniciar ao mesmo nível que os arcos diagonais, inserem um colunelo que permite colocar o nascimento dos arcos formeiros em nível superior ao dos outros. as janelas da clarabóia podem, assim, tornar-se mais importantes e deixa de ser necessário acentuar a ogiva do arco formeiro para obter uma abóbada de flechas iguais. Finalmente, a zona coberta pela abóbada na parede exterior reduz-se a uma linha em vez de se limitar a um triângulo. A nave da Catedral de Amiens oferece um exemplo claro deste sistema.
SUPORTE
Uma vez que a arquitetura gótica se desenvolveu à partir da românica, podemos encontrar um colunelo para cada nervura da abóbada, o que efetivamente acontece sobre os capitéis da arcada da nave. Como as proporções do edifício se tornaram mais leves, os fustes são mais esguios do que na arte românica e sublinham o movimento ascendente do conjunto. Quanto ao pilar propriamente dito, o caso é diferente. O pilar composto românico, por mais lógico que seja, é relativamente espesso; define o espaço da nave central e separa-a das laterais. As diferentes partes da igreja são desde então concebidas como unidade separadas. O gótico parece primeiramente retroceder. O pilar composto é substituído por uma coluna lisa e redonda cuja massa, menos volumosa, facilita a passagem entre a nave central e as laterais, criando um espaço único. Para que se torne possível utilizar colunas lias, os suportes aparentes dos arcos da abóbada devem terminar ao nível dos capitéis, o que embora arquitetonicamente possível é pouco estético. Com efeito, as verticais rígidas dos colunelos parecem interromper-se bruscamente demais.
Entretanto o desejo de se construir catedrais cada vez mais altas leva a um grande aprimoramento técnico e os fortíssimos pilares de Chartres por exemplo nos elegantes fustes de Amiens, testemunho de uma experiência mais avançada em termos de arquitetura.
A habilidade técnica em constante progresso dos construtores dos séculos XIV e XV permitir-lhes-á recorrer de novo ao pilar composto, cujos elementos serão tão finos e tão delicados que ele parece desafiar as leis da gravidade.
CONTRAFORTE
É o terceiro e último elemento estrutural do gótico.
As paredes góticas ao contrário das românicas são finas, ou inexistentes, sendo o contraforte tipicamente gótico composto de duas partes:
A primeira o contraforte propriamente dito inspira-se no contraforte românico e está colocado em ângulo reto em relação a igreja, contra a parede lateral, e, no mais alto grau de perfeição, eleva-se bastante alto. O peso deste elemento neutraliza a pressão das abóbadas.
O segundo elemento, ou arcobotante, é especificamente gótico. O arcobotante tem uma caixilharia diagonal de pedra; está escorado de um lado pelo contraforte, colocado a certa distância da parede, e por outro lado pela clarabóia da nave. O arcobotante dirige a pressão da abóbada para o exterior por cima da cobertura da nave central. Como é cimbrado por baixo, exerce um pouco de pressão sobre o vão; sozinho não poderia resistir à pressão lateral das abóbadas, mas associado aos contrafortes, tem uma força enorme. Foi graças a esse elemento que o gótico ousou construir naves tão altas e tão claras. A catedral gótica, eleva-se para o céu como uma oração e tal como a filosofia medieval, exprime o intangível e transcende o homem na sua procura do além.
ARQUITETURA CIVIL
No início da Idade Média a arquitetura civil refletia as condições incertas da época. Enquanto os camponeses viviam em cabanas de adobe ou pau-a-pique, ou mais raramente materiais sólidos, a nobreza européia vivia em castelos sem dúvida imponentes, mas incômodos e desconfortáveis. O fosso constitui a primeira linha de defesa. Os muros sólidos são enquadrados por torres colocadas nos ângulos e de ambos os lados da entrada e coroados por ameias cuja função é proteger e os arqueiros. Possuem também o menor número de aberturas possíveis e mesmo estas são muito pequenas.
Embora o castelo se erga em volta de um pátio aberto, os blocos habitacionais são mais bem iluminados do que se possa imaginar pelo seu aspecto exterior. Face a entrada principal encontra-se uma grande sala que tem do lado as cozinhas e mais dependências e do outros os apartamentos privados dos castelões. A grande sala é, em todo o sentido do termo , o centro vital do castelo: é aí que o senhor recebe seus vassalos, que as refeições são tomadas em comum e que se desenvolve a maior parte das atividades da vida cotidiana. Primitivamente, esta sala servia também de dormitório para os serviçais, mas este costume já havia desaparecido no século XIV. O vidro embora já conhecido era muito caro, as vidraças eram portanto raras. Por isso era preciso escolher entre duas soluções: dispor de uma claridade suficiente e permitir que os ventos frios do inverno entrassem nas divisões, ou fechar os taipais, sofrer menos com o frio e servir-se de pouca ou nenhuma luz natural. Por outro lado as instalações sanitárias desembocavam nos fossos, de modo tal que estes não deviam ser tão românticos como nos nossos dias.
Entretanto as condições de vida e a segurança melhoram com o tempo. Com a posterior popularização do vidro as vidraças se tornam mais comuns, resolvendo o problema da iluminação e aquecimento. Passa-se a ter uma maior preocupação com o conforto e a família e os servos passam a ter quartos de dormir mais amplos e confortáveis. Cada divisão importante é aquecida por fogões e as janelas envidraçadas ajudam a manter a temperatura e garantem uma boa luminosidade.
Quanto a mobília gótica essa de início era bem pouco numerosa. As pinturas de época nos mostram camas maciças, mas o móvel principal era arca onde se guardavam os bens, e que servia igualmente de banco, ou até mesmo de cama. Os raros exemplares de móveis góticos que possuímos testemunham o mesmo estilo direto, o mesmo respeito pelos materiais e o mesmo amor pela ornamentação lavrada que na arquitetura e escultura. Este mobiliário é a maior parte das vezes de carvalho maciço.
Fontes
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