O labirinto

Labirinto de Chartres

O nome “Labirinto” deriva do termo grego labyrinthos (λαβ?ρινθο?).

Na catedral de Chartres, na França, existe um dos mais renomados labirintos conhecidos. Ele serviu de inspiração e modelo a muitos outros, ainda existentes em inúmeras catedrais.

Sabe-se que muitos desses labirintos desenhados no chão das catedrais foram destruídos em séculos posteriores, talvez por desconhecimento de seu significado e importância.

Mas, o que faz  afinal, um labirinto gravado no chão? Qual é a função desse desenho matemático no recinto sagrado de uma catedral?

O termo ‘labirinto’ designa um percurso sinuoso, com ou sem cruzamentos, becos-sem-saída e falsas pistas, destinado a perder ou enganar o intruso que nele penetra. Seria afinal esse o sentido desses labirintos aparentemente ornamentais?

O mais incrível é como através dos tempos ele vai adquirindo uma infinidade de significados.

Os labirintos da Antiguidade

Palácio de Cnossos

Alguns dos labirintos mais antigos e famosos são os das pirâmides do Egito e o da ilha de Creta, na área de cultura helênica.

Em ambos os casos tudo indica que não se tratou de construções materiais, mas sobretudo mitológicas.

Atribui-se ao faraó Amenemhat III (1860 a.C. – 1814 a.C) a construção de um palácio monumental na depressão de Faium, perto do lago Meris (atualmente Birket-Qarun).  Sendo considerado um dos soberanos mais importantes do Império Médio. A fachada era ornada com pedras brancas como o mármore. O palácio teria tido quase três mil salas, ligadas por um complexo sistema de corredores em vários níveis. Esse prédio foi chamado pelos gregos de Labirinto. Mas nada restou dele. Heródoto, que o havia visto e visitado as salas do pavimento superior, fala do labirinto com entusiasmo, dizendo que era superior a todos os edifícios gregos, e sua beleza sobrepujava as pirâmides do Antigo Egito. Os visitantes tinham de ser acompanhados por um guia para não se perderem, pois ficavam maravilhados com as riquíssimas ornamentações e a magnificência de seus cômodos e se perdiam, pois as salas eram interpostas de maneira a confundir o visitante.

A lenda do labirinto, entretanto, sobreviveu ao palácio. Segundo ela, no prédio morava o deus Anúbis, divindade com cabeça de cão, que por meio de um fio conduzia até o deus supremo as almas dos faraós falecidos, superando os perigos do abismo eterno.

A Antiguidade deixou parcos desenhos de um Labirinto.

O Minotauro

Segundo Heródoto, a lenda do palácio de Amenemhat III teria inspirado o arquiteto Dédalo – encarregado por Minos, rei de Creta – a construir uma prisão para o monstro Minotauro.

A lenda do Labirinto de Dédalo foi a que mais marcou o Ocidente. Houve intensos esforços para localizar suas ruínas ou, pelo menos, o local onde poderia ter estado.

A lenda grega é uma adaptação da mitologia egípcia: Ariadne, filha do rei de Creta, deu ao herói Teseu, como prova de amor, a ponta de um novelo de lã que ela desenrolava.

Ao assumir o trono de Creta, o rei Minos que travava uma batalha acirrada com seus irmãos, rogou à Poseidon, o deus do mar que lhe enviasse um sinal de sua aprovação à seu reinado. Poseidon então lhe enviou um belo touro branco, que deveria ser sacrificado em sua homenagem; Minos porém se encantou com a beleza descomunal do touro e não o matou. Em represália  à tamanha afronta, o egocêntrico deus uniu forças com Afrodite (a deusa do amor) que fez com que Pasífae se apaixonasse pelo touro.

Parsífae que se encontrava perdidamente apaixonada pelo touro, pediu à Dédalo (o lendário artesão) que lhe construísse uma vaca de madeira, para que assim pudesse copular com o touro do mar. Deste bizarro encontro amoroso, nasceu Minotauro, um ser anormal com corpo humano e cabeça de touro.

Durante a infância da criatura, Parsífae cuidou-o, porém com o tempo ele se tornou feroz e como não havia alimentos que suprissem satisfatoriamente suas necessidades, Minotauro começou se alimentar de homens.
Atordoado, Minos procurou o oráculo em Delfos e aconselhado por este, pediu á Dédalo que construísse um labirinto muito bem elaborado para prender Minotauro, e assim foi feito.

Anualmente eram enviados sete jovens para oferenda ao temido monstro, os jovens eram atenienses como uma retaliação de Minos à Atenas, pela morte de seu filho Androgeu após uma batalha com os atenienses.
E é neste contexto que ARIADNE é inserida.
Ariadne era a formosa filha de Minos, que encantava todos com sua beleza e atraía milhares de pretendentes.

O príncipe ateniense semi-deus Teseu, no terceiro ano de sacrifício decidiu se voluntariar, tendo em mente matar o monstro. Aconselhando-se com o oráculo lhe foi revelado que somente alcançaria a vitória se fosse auxiliado pelo amor.
Assim que Teseu chegou a Creta, Ariadne se apaixonou loucamente por ele e decidiu lhe ajudar à escapar com vida do minucioso labirinto.
Ariadne então propôs à Teseu lhe ajudar em troca de seu amor, o que foi prontamente atendido. Ela deu ao jovem uma espada para que ele pudesse matar Minotauro e um novelo de fio de ouro para que ele o amarasse na entrada do labirinto e fosse o desenrolando para deste modo encontrar a saída.

Teseu nunca devia afrouxar para não se perder no Labirinto e atingir por fim a salvação ou paz eterna. No meio do Labirinto, Teseu encontraria o demoníaco Minotauro, acabou vencendo-o e por meio do fio atingiu a salvação.

Uma vez dentro do labirinto Teseu desenrolou o novelo como explicado por Ariadne e ao encontrar Minotauro o cegou com um punhado de areia e o golpeou mortalmente. Teseu ainda cortou o cabelo do monstro para provar que havia o matado e o entregou ao rei Minos, que perdoou Atenas de sua dívida.

Como prometido, Teseu partiu para Atenas levando consigo Ariadne. No caminho de regresso porém, Teseu resolveu repousar na ilha de Naxos (ilha que era predileta do deus Dionísio). Lá chegando a bela Ariadne adormeceu e Teseu aproveitando esse ensejo partiu com seus homens abandonando a princesa. Ao acordar e vendo-se abandonada Ariadne entrou em desespero. Ao ver a cena de sofrimento de Ariadne, Dionísio (deus do vinho e das festividades) se apaixonou pela jovem e lhe propôs casamento. Como presente ele ofereceu à Ariadne uma coroa de ouro revestida de pedras preciosas. Há versões no entanto, que indicam que o próprio Dionísio teria convencido Teseu a deixar ali a princesa pois ele a desejava para si. Teseu ainda teria recusado inicialmente, mas o deus conseguiu convencê-lo por fim.

Quando Ariadne morreu, desolado Dionísio atirou a coroa que havia lhe presenteado em seu casamento ao céu. A coroa formou uma linda constelação que iria recordar por todo sempre a beleza de Ariadne e o amor de Dionísio por ela (Coroa Boreal ou Coroa do Norte).

A simbologia do fio de ariadne

Até hoje o fio de Ariadne é constantemente citado nos âmbitos da filosofia, da ciência, dos mitos e da espiritualidade, entre outras esferas que reivindicam seu significado metafórico. Vinculado ao símbolo do labirinto, ele é constantemente visto como a imagem com a qual se tece a teia que guia o Homem na sua jornada interior, e o ajuda a se desenredar do caminho labiríntico que percorre em sua busca do autoconhecimento.

O Labirinto é o Outro Mundo, ou assim como chamam os galeses, o Annwn. O monstro que o habita é o rei deste mundo, o Zeus Ínfero. Portanto a conquista do Labirinto fará de Teseu, o maior dos heróis, e lhe garantirá a mão da rainha do sub-mundo, Ariadne.

O percurso de Sigurd, o grande herói germânico, é exatamente o mesmo de Teseu. O jovem guerreiro, imbuído de sua grandiosidade, desce à Nifelheim, mata o dragão Fafnir, conquista seu tesouro e se torna rei dos anões. É agraciado com a mão de Brünhild, a Valkiria, a preferida de Ódin, para posteriormente rejeitá-la, assim como Teseu rejeita Ariadne.

A entrada ao outro mundo é sempre feita pelos jovens e normalmente esta invasão acarretará a um insulto aos habitantes deste mundo. Ao adentrar nos domínios do Rei Pescador, Percival faz com que todo o reino de Logres se transforme na Terra Arrasada, a terra improdutiva onde tudo fenece. Apenas com a conquista do tesouro máximo, o Santo Graal, ele poderá fertilizar novamente a terra. O conhecimento das zonas ínferas está sempre relacionado a saber mágico de fertilidade, por isso são enviados moças e jovens virgens para o Labirinto, pois são eles os mais próximos aos rituais primevos de fertilização da terra.

Dentre os símbolos que indicam a presença das forças ínferas, a serpente é provavelmente o ser mais intimamente ligado às profundezas. Carregando consigo os princípios femininos de mistério, magia e fertilidade. Lembremos portanto da deusa das serpentes cretense e do dragão ( lingwurm ) morto por Sigurd. Indra é aquele que matando o dragão vivifica a terra e a fertiliza. A serpente é também um dos símbolos de Shiva o perfeito yogui , o deus do equilíbrio, da destruição e da criação. A serpente é também aquela que submerge o jovem Krishna nos mistério de maya, fazendo-o aperceber-se de sua essência divina. O mesmo movimento é feito por Hades quando viperiforme abduz Perséfone fazendo-o aperceber-se de sua divindade como rainha do submundo.

O símbolo da serpente não está presente no rei do Labirinto, o Minotauro, ela, neste mito é um dos atributos de Ariadne; a serpente é o fio de Ariadne. Possivelmente, nas fontes mais antigas do mito, o fio não apenas teria retirado Teseu do Labirinto, como também o teria levado à presença do Deus Touro. Para compreendermos a simbologia do fio devemos levar em conta de que a corda é um dos princípios originários da magia. Lembremos de Ódin, e de que o deus viking é o senhor dos enforcados, lembremos do anel dos Nibelungos, que faz o tesouro dos anões se multiplicar, e do deus urânico do Rig-Veda, Varuna, senhor das amarras. A palavra em sânscrito para amarra, nó, é sina , que no vocabulário latino é a palavra para destino, a maya suprema.

Ariadne é uma mulher mortal associada ao divino, considerada ainda, como a Senhora dos Labirintos. Ariadne também é retratada como líder das extasiantes mênades dançantes, as mulheres seguidoras de Dionísio.

O labirinto na Alquimia

O labirinto é uma figura presente na alquimia, embora não seja uma das representações mais recorrentes. No entanto, foi usado de forma habitual pelos alquimistas da Idade Média, pois demonstra sua presença em alguns manuscritos dedicados a esse assunto.

Na tradição alquímica o labirinto simboliza os desafios e as aflições que os Iniciados precisam atravessar para se depurar espiritualmente e assim alcançar a tão sonhada pedra filosofal, ou seja, a perfeição. É neste momento que o Adepto alcança o núcleo de si mesmo. Os alquimistas acreditam no que se denomina Labirinto de Salomão ou labirinto das catedrais, uma imagem predominante na filosofia cabalista, que encabeça alguns manuscritos dessa ciência oculta.

Entre os gnósticos o labirinto também tem uma conotação iniciática, pois o Adepto deve percorrer seus caminhos, passando assim por uma espécie de âmago espiritual invisível, onde ocorre a conversão das sombras em luz e, assim, uma renovação pessoal. É quando o Ser se depara finalmente com a verdade que busca. Para os atuais gnósticos, todos necessitam sair do labirinto da mente em que vivem e alcançar o lábaro do templo interior, onde receberão instrução e luz.

Fulcanelli, considerava o labirinto como um símbolo do trabalho na Grande Obra, com suas duas maiores dificuldades: escolher o caminho que é preciso ser trilhado até alcançar-se o centro e o caminho de saída com o fio de Ariadne para não se extraviar nos desvios da Obra tornando impossível o regresso.

O Labirinto no Cristianismo

“Não se atinge o Uno com um salto; e tampouco sem andar às voltas”

San Reparus

A aparição de labirintos em igrejas e catedrais começou na época romana. O primeiro pavimento com labirinto conhecido no contexto cristão é na basílica de San Reparatus, na Argélia, e corresponde ao Século IV.

O labirinto simbolizava o difícil caminho até Deus com uma só entrada (o nascimento) e um centro claramente definido (o próprio Deus).

Com esta simbologia, os construtores medievais utilizaram os labirintos nos pisos de diversas igrejas. Eram estes feitos com ladrilhos no formato circular ou octogonal. Dentre estes podemos destacar os das catedrais de Amiens, Chartres e Reims. O motivo do labirinto estava também relacionado com a peregrinação à Terra Santa e foi por isso chamado de Légua de Jerusalém. Os fieis seguiam os caminhos dos labirintos de joelhos, o que lhes valiam indulgências pelos seus pecados. Era portanto, uma forma de penitência.

 

 

 

Caminho de Jericó

No início, os labirintos apareceram principalmente em manuscritos, mas no século XII começaram a aparecer em catedrais e igrejas na Itália e durante o século XIII se espalharam para a França, onde foram construídos bons exemplos. Embora os labirintos no chão sejam os mais conhecidos, existem outros exemplos formados com telhas ou esculpidas em pedra. Eles se tornaram muito populares em toda a Europa, mas muitos foram destruídos a partir do século XVII, quando os gostos foram alterados.

Apesar dessas perdas, durante o século XIX houve um ressurgimento do interesse pelos labirintos. Alguns exemplos perdidos foram restaurados e novos exemplos e réplicas sobreviveram até hoje.

 

 

 

De todos os labirintos medievais que encontramos em igrejas ou catedrais, o mais conhecido atualmente é, sem dúvida, o da catedral de Chartres, projetado pelo arquiteto Villiard de Honnecurt no século XIII e que hoje ainda pode ser visto em boas condições, com as onze Anéis concêntricos e seus 12 metros e meio de diâmetro. A luz que inunda a catedral por seus vitrais em 22 de agosto (correspondente ao 15 de agosto no calendário juliano usado na Idade Média) faz com que a imagem da Virgem localizada na janela ocidental seja projetada no centro do labirinto.

O labirinto de Chartres é redondo e suas pedras negras marcam o percurso – em pedras brancas – a ser feito a pé ou de joelhos. A borda é finamente trabalhada, assim como o centro, rodeado por um desenho florido.

A renda de pedra que rodeia o labirinto estabelece uma fronteira entre o sagrado e o profano.

O labirinto de Chartres associa a espiritualidade cisterciense ao desejo de fazer da catedral um modelo de perfeição acabada, espelho da Ordem do Universo.

No centro do labirinto havia uma extraordinária placa de cobre. Não sabemos que imagens estavam nela representadas, pois as testemunhas pós-medievais já as viram muito apagadas.

A impiedade sacrílega da Revolução Francesa arrancou essa placa com o pretexto de fundi-la e fazer canhões para a República.

No dia da festa da Assunção de Nossa Senhora (no Calendário Juliano, ainda em uso na Idade Média), um raio de sol atravessava o vitral central da fachada e projetava a imagem de Nossa Senhora sobre o cobre, produzindo um efeito luminoso colorido de esplendor incomparável.

Esse centro é chamado de Paraíso, ou também de Jerusalém, aplicando-se o termo à Jerusalém celeste e à Jerusalém pela qual os Cruzados combatiam.

Na catedral de Reims, o percurso dentro do Labirinto recebia o nome de “Caminho de Jerusalém” e era percorrido recitando-se as orações contidas num livrinho de devoção especial.

Quem ingressa no Labirinto deve caminhar através de onze anéis até chegar ao Paraíso. O número 11 é simbólico e ensina que é um caminho a ser percorrido pelo pecador.

Esses onze anéis sinalizam o conjunto das peripécias que o homem concebido no pecado deve atravessar no decurso da vida.

Ele encontra obstáculos, voltas e desvios, retrocessos inesperados que o obrigam a começar tudo de novo.

Sua vida está cheia dessas idas e vindas, das voltas que não se entendem, das aparentes aniquilações dos trabalhos feitos, da necessidade de reiniciar uma e outra vez.

Lição moral do labirinto

Essas situações da vida real, nas quais o caminho parece perdido e o trabalho de uma vida desperdiçado, em que não se vê mais o ponto de chegada, também são momentos de tentação.

Tentação de desânimo, de desesperança, de largar os braços, de renunciar ao caminho, de desistir da salvação.

Esses são os momentos do anjo da perdição – representado pelo demoníaco Minotauro da lenda de Creta – que figura de modo pagão o demônio do desespero que assalta os homens no meio de alguma curva da vida.

Porém, no Labirinto de Chartres, está representado também o novelo misterioso que ajuda o pecador a não se perder e a vencer a tentação: a graça divina. O centro do Labirinto representa a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Portanto, Àquele que é o criador da graça e que a dispensa a todos os que perseveram no labirinto da vida, impedindo que se percam ou que caiam nas armadilhas e nos embustes que enchem a passagem do homem pela Terra.

A condição para o fiel é uma só: nunca largar o fio do novelo, inclusive no momento em que tudo parece rumar no contra-senso ou para trás.

Originalmente publicado em : https://www.beatrix.pro.br/donzela-tecela/labirinto/

Fontes:

https://cienciaconfirmaigreja.blogspot.com.br/2013/01/o-labirinto-das-catedrais-simbolismos-e.html

O labirinto, símbolo do caminho até Deus


http://pt.wikipedia.org/wiki/Labirintohttp://laborintus.planetaclix.pt/dicio-DB.html
http://www.patio.com.br/labirinto/borges1.html
https://floresdeumdeserto.blogspot.com.br/2012/09/ariadne-o-mito-da-princesa-apaixonada.html
Laberintos….
http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa13/v1/diogosantos.html

Author: Beatrix