Kraftwerk

A banda alemã mais importante de todos os tempos. Ou, ao menos, a mais famosa e badalada. Um culto que transcende seu país ou estilos musicais. Afinal, o Kraftwerk influenciou inúmeros artistas desde os anos 70 e seu estilo único conquistou milhões de fãs e as paradas de sucesso. Foram chupados homenageados e até hoje comovem quando resolvem sair de seu casulo – ou do estúdio Kling Klang – e tocam pelo mundo – levando o Kling Klang para o palco. E, milagre, até estiveram aqui, duas vezes! Desde que estouraram com a longa faixa “Autobahn” há mais de 30 anos, o Kraftwerk sempre esteve à frente dos contemporâneos. Saiba um pouco desse grupo que resolveu lançar um novo disco recentemente gravado em sua última turnê e que envelhece sem perder a inteligência e o refinamento, marcas registradas do grupo e que terá sua biografia contada em duas partes.


por Rubens Leme da Costa

Biografia – Primeira parte: 1970 a 1990

Florian e Ralf no início dos anos 70Ralf Hütter e Florian Schneider são, de fato, o Kraftwerk. Foram eles que começaram a idéia de algo novo, muito antes do grupo existir, no final dos anos 60.

A Alemanha daquela época era um vácuo, especialmente cultural. Após a Segunda Guerra Mundial e a divisão entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, o país sofria uma imensa e violenta crise de identidade cultural. Um das maiores pólos culturais da Europa e do mundo, o país vivia uma época em que a falta de perspectiva era o maior problema para uma juventude anestesiada, que rejeitava a herança deixada e que consumia, como o planeta inteiro, a cultura norte-americana.

A música que tocava era o rock dos Beatles, que ironicamente tinham aprendido muito tocando nos primeiros anos em Hamburgo. O piscodelismo era também consumido, mas nenhum desses estilos casava de forma precisa com as aspirações dos jovens alemães.

A primeira resposta a isso veio com o Can e com o Tangerine Dream, que misturavam o rock psicodélico, o nascente progressivo, com eletrônica e alguns experimentos. Em breve outras bandas como Cluster, Amon Düul II, Guru Guru, Ash Ra Tempel e outras ocupavam uma cena faminta por novidades. Mas ainda faltava algo. Faltava uma grande banda, um grande nome, uma unanimidade.

Essa unanimidade já existia e fazia parte de um grupo chamado Organisation. No Organisation, participavam dois jovens que seriam o núcleo de algo bem grande – Ralf Hütter e Florian Schneider. E o Organisation era um grupo relativamente organizado e com bons instrumentos, tanto que o guitarrista do Can, Michael Karoli, lembra que sua banda cansou de usar os instrumentos alheios em shows, como na primeira apresentação do Can.

Ralf e Florian se conheceram em um conservatório de Dusseldorf, onde eram estudantes. Ralf tocava órgão e Florian, flauta. Como boa parte dos músicos alemães, os dois possuíam uma sólida formação clássica e teórica, mas não queriam se aventurar pela música de câmara. Os dois queriam misturar seu conhecimento com improvisos e com a eletrônica.

capa do disco Tone FloatO Organisation era composto por cinco músicos – além de Ralf e Florian, faziam parte o vocalista Basil Hammoudi, o baixista Butch Hayf e o baterista Fred Monicks. Em 1970, o grupo lançou um disco chamado Tone Float. O disco trazia elementos psicodélicos, percussivos e minimalistas, sendo produzido por Conny Plank. Plank conseguiu um acordo para o grupo com a RCA britânica, por onde foi lançado o álbum. Mas a gravadora não sabia o que fazer com o som deles e os tentou rotular de “King Crimson alemão”, o que foi um desastre. O mais curioso é que o trabalho não foi lançado na Alemanha à época e ele tinha que ser importado.

O Organisation acabou não resistindo ao fracasso de estréia e Ralf e Florian resolveram criar um novo grupo. Mas, ao invés de copiar ou seguir adiante com o modelo de sua ex-banda, buscavam algo novo. O primeiro passo foi construir um estúdio particular, onde poderiam trabalhar exaustivamente por horas e horas. O segundo foi chamar dois novos integrantes, Andreas Hohman e Klaus Dinger.

E faltava escolher um nome, uma marca que pudesse traduzir perfeitamente a proposta da banda e que soasse bastante alemã. Como Dusseldorf fica dentro do coração industrial da Alemanha foi escolhido o nome Kraftwerk, que nada mais é do que “usina de força”.

capa do disco KraftwerkCom o nome escolhido, convidaram Conny Plank, o mesmo produtor do Organisation, para produzir o primeiro disco da banda. Kraftwerk foi produzido entre julho e agosto de 1970. O disco trazia alguns elementos interessantes, embora distantes do som com que o Kraftwerk ficaria famoso. “Ruckzuck” abre com flauta e ruídos eletrônicos. “Stratovadus” fecha o lado A. “Megaherz” e “Von Himmel Hoch”, as duas do lado B, eram faixas primitivas demais para um grupo que marcaria época.

E o grupo teve a primeira crise interna quando Hohman resolveu deixar o grupo, sendo substituído por Michael Rother, um guitarrista e pelo baixista Eberhardt Krahnemann. E o baixista abriu uma segunda crise após uma gravação deixando o grupo e sendo seguido por Ralf Hütter. No entanto, Florian não perdeu a calma e continuou trabalhando com Dinger e com Rother.

Michael RotherKlaus Dinger

Como trio, a banda fez a primeira aparição na televisão alemã, tocando “Truckstop Gondolero”, por sete minutos e usando os cones que haviam usados na capa do primeiro disco em volta deles. Tudo isso no programa de rock Beat Club.

E, ao mesmo tempo em que Dinger e Rother anunciaram que deixariam o Kraftwerk para começarem um novo grupo (Neu!, que também faria história dentro do rock alemão), Ralf volta à banda e começam a gravar um novo trabalho.

capa do disco Kraftwerk Kraftwerk 2 é um disco mais eletrônico, já que a banda precisou usar uma primária bateria eletrônica para suprir a ausência do baterista Dinger.

O disco abre com “Klingklang”, que seria o nome do estúdio do grupo e fecha o primeiro lado com “Atem”. No lado B, mais quatro faixas: “Strom”, “Spule 4”, “Wellenlange” e “Harmonika”. No entanto, esse disco já mostra uma maior preocupação em estruturar as canções, já que Ralf e Florian não queriam se perder em improvisos como no disco do Organisation.

capa do disco Ralf and FlorianA primeira virada na carreira da dupla seria com o disco Ralf and Florian, de 1973. O duo começou a forjar toda sua essência sonora a partir desse disco, já gravado no Kling Klang, e tremendamente influenciado por um jovem estudante de violino, Emil Schult. Schult seria ao longo dos anos um membro não-oficial, ajudando nas letras e a moldar a concepção visual do grupo. “Tanzmuzik” já trazia elementos que seriam usadas alguns anos mais tarde na música disco, mostrando o quanto poderiam ser visionários e conectados com as novas tendências. As canções do disco eram, no lado A: “Elektrisches Roulette”, “Tangebirge”, “Kristallo”, “Heimatklange” e no lado B: “Tanzmuzik” e “Ananas Symphonie”.

E a grande mudança viria no ano seguinte quando se tornariam, de longe, o grupo alemão mais bem-sucedido até então. Tudo isso por causa de uma canção que exaltava as auto-estradas construídas por Adolf Hitler e que haviam acabado com o verde dentro da Alemanha: Autobahn.

capa da edição alemã de Autobahncapa da edição inglesa e que ficou popularizada no mundo, de AutobahnAutobahn foi a primeira vez em que o Kraftwerk atingiu o grand público e não apenas na Alemanha. O disco marca uma total e radical mudança no som do Kraftwerk. Novamente um quarteto, com as aquisições do guitarrista Klaus Roeder e do percussionista Wolfgang Flür, o Kraftwerk percebeu que o som da banda estava nos sintetizadores que se popularizavam cada vez mais.

Mas o grande susto foi quando alguém – não se sabe ao certo o dono da idéia – pegou a longa faixa “Autobahn”, de 22 minutos e resolveu editá-la em pouco mais de três minutos e distribuir às rádios. Foi um estouro mundial, que pegou a banda e gravadora desprevenidas.

“Autobahn” falava de algo que fazia sentido para os alemães – entrar em um carro popular e rasgar a Alemanha dentro das suas modernas, largas e seguras auto-pistas. Apesar disso, a canção bateu rapidamente entre as 30 mais nos Estados Unidos e ficou entre as 20 mais na Inglaterra.

Com o sucesso do disco, a banda saiu excursionando e imediatamente trocou o guitarrista Roeder por um segundo percussionista, Karl Bartos e tocou por Europa e Estados Unidos. Nessa época, a banda recebeu o rótulo de “space rock”, designados aos grupos progressivos, e, em especial, o Pink Floyd. Apesar de não gostarem do rótulo, Ralf e Florian não o achavam tão ruim.

“Nós temos algumas referências ao espaço em nossas músicas, como em “Kometenmelodie”, mas por outro lado, temos referencias bem terrestres como o corpo humano e o dia-a-dia”, explicou em uma entrevista de 1975, Ralf.

“Nós crescemos impressionados com a tecnologia e o maquinário rítmico que usamos na nossa música, assim como nos aspectos mecânicos da vida moderna. A tecnologia não é uma inimiga para nós, nós a usamos de maneira adequada. Também gostamos de coisas naturais, mas é errado falar que isso é melhor ou pior do que a máquina. Você deve aceitar essas coisas”, disse Florian.

Os dois explicavam porque o ritmo era tão importante para o Kraftwerk: “pode não parecer, mas nós alemães gostamos de ritmo e atualmente algumas companhias de danças da Alemanha usam nossas músicas para criar danças em cima delas. A coregrafia parece uma dança de robôs, com movimentos mecânicos. É esse tipo de dança que faremos no palco. Não é mexer todo seu corpo, mas você se sentirá dançando. Seu cérebro dançará”, garantia Ralf.

Ralf explicava que o grupo era uma orquestra no palco: “nós criamos um único instrumento, uma espécie de alto-falante. Nós faremos mixagens, acionaremos tapes e tocaremos todo o aparato que forma o Kraftwerk, incluindo luzes e a atmosfera.”

Florian explicava que eles gostavam de improvisar sob temas orientais, que não possuem uma estrutura tão delimitada quanto a ocidental ou até sobre temas clássicos.

“O que mais gostamos é tocarmos as notas essenciais. Uma das coisas mais tediosas nos anos de conservatórios era a obrigatoriedade de tocar várias notas em tantos segundos ou minutos. Nós tentamos soar da maneira mais simples e direta possível.”

capa do disco Radio-ActivityEm 1975, a banda daria outro susto lançando outro disco inovador, Radio-Activity (ou Radio-Aktivitat, em alemão).

O álbum marca uma importante mudança para o Kraftwerk, que havia deixado a gravadora Philips e assinado com a E.M.I. que havia dado um generoso adiantamento e uma parte dos futuros lucros para gravarem o novo disco, que o Kraftwerk prometia ser melhor do que Autobahn.

O disco abre com a faixa “Geiger Counter” (ou Geigerzahler) simulando uma batida de coração, depois um código morse e uma voz fria, glacial declamando a palavra-título. E, seguindo a mesma idéia do trabalho anterior, Radio-Activity teria um fio-condutor, como era corrente nos álbuns de rock progressivo. A diferença seria o tema e a simplicidade por detrás de tudo, ao invés dos exageros das bandas inglesas.

Esse trabalho pode ser considerado o primeiro totalmente eletrônico feito pelo grupo e o primeiro a conter letras em inglês e a partir de então os discos seriam lançados sempre em duas versões: em inglês e em alemão.

O primeiro single tirado do disco foi a faixa-título, que assim como “Autobahn” teve que ser editada. Mas, o single não fez sucesso, com exceção da França, onde teve uma boa vendagem. No mesmo ano é editado uma coletânea do grupo chamada Exceller 8.

Nos Estados Unidos, o grupo era considerado uma daquelas bandas de um único sucesso, apesar do crescente número de fãs. Mas foi na Inglaterra que o Kraftwerk experimentou uma grande popularidade, principalmente dos nascentes grupos punks, que viam no som do Kraftwerk uma rejeição aos valores tradicionais do rock and roll.

Bowie em foto de 1976A fama da banda cresceu muito quando David Bowie confessou sua paixão pelo som do grupo. Afinal, crítica e fãs grudavam-se às palavras do cantor como uma tábua dos Dez Mandamentos.

Na turnê promocional de seu antológico disco Station to Station, de 1976, Bowie tocava uma fita com músicas do Kraftwerk e chegou a convidar o grupo a abrir seus shows, convite esse recusado. No ano seguinte, o cantor inglês iria morar em Berlim e estreitaria ainda mais os laços com o Kraftwerk.

Mas o Kraftwerk não parava de trabalhar. E, em 1977 lançam o que pode ser considerado sua grande obra-prima, o disco Trans-Europe Express.

capa do disco Trans-Europe ExpressTrans-Europe Express foi um sucesso monumental e um dos mais importantes lançamentos no ano marcado pela explosão do punk-rock. Mas o Kraftwerk não fazia referência ao novo estilo musical e sim a Bowie. Bowie havia gravado dois discos fortemente influenciados pelos alemães, o semi-instrumental Low e “Heroes”, além de produzir o primeiro disco-solo de Iggy Pop, The Idiot.

No disco “Heroes”, Bowie escreveu V-2 Schneider, em homenagem à Florian. E o Kraftwerk não deixou por menos, citando nominalmente Bowie e Pop na faixa-título. E se Bowie se esforçava para cantar em alemão, o Kraftwerk escrevia cada vez mais em inglês.

foto promocional do disco Trans-Euope ExpressO Kraftwerk nessa época era visto por alguns críticos como um grupo por demais teutônico e suas idéias eram encaradas com desprezo. Havia quem os considerasse os “Beach Boys alemães” por cantar a alegria de guiar em uma auto-estrada. Sua música era considerada fria, distante e inócua. Em Trans-Europe Express, o grupo faz uma denúncia toda pessoal da condição humana. “Showroom Dummies”, por exemplo conta a história de manequins de vitrine que ganham vida; “The Hall of Mirrors”, fala da sensação que temos de olharmos para nós em um espelho e não nos reconhecermos.

Mas o disco acabou não tendo sucesso comercial, alcançado resultados modestos nas paradas de sucesso. O Kraftwerk começava a enfrentar um sério problema com a gravadora, que aplicava muito dinheiro no grupo e via um retorno apenas modesto. Mas essa dúvida seria quebrada com o novo disco, The Man-Machine.

Os robôs em um showA idéia central do novo disco vinha de tempos, desde a excursão americana de 1975. Ralf e Florian sonhavam em serem substituídos por robôs parecidos com eles. No imaginário dos dois, os robôs poderia fazer de tudos – desde se apresentarem ao vivo até em conferências com os jornalistas. Era um conceito irônico, mostrando que as pessoas haviam sido automatizadas pela vida. E dessa vida, os próprios integrantes poderiam cuidar mais da parte musical.

capa do disco The Man-MachineNa época, o máximo que podiam fazer era adaptar manequins com os integrantes fazendo as vozes por trás. Com esse conceito nasce o disco The Man-Machine, de 1978, que reservaria várias surpresas. A maior delas foi dar ao grupo, um primeiro lugar nas paradas, com “The Model”, mas em 1982, quatro anos depois! A primeira polêmica sobre o disco veio pelo uso das cores vermelho e preto, utilizadas pelos nazistas. O grupo respondia, de forma irônica, que o vermelho simbolizava os países comunistas. O que o grupo pregava era a total falta de individualidade das pessoas e a total uniformidade das sociedades modernas.

O disco consistia em seis faixas: “The Robots”, “Spacelab”, Metropolis (lado A); “The Model”, “Neon Lights” e “The Man Machine” (sem hífen, no lado B). As canções falavam de amor, vida nas grandes cidades, nostalgia, tecnologia, comportamento humano e socidade.

Até então, o grupo experimentava um desempenho pífio nas paradas de sucessos e isso inquietava a banda. Apesar das vendagens de LPs serem boas e os fãs aumentarem sempre, o grupo não conseguia sucesso nas rádios. Tudo isso mudaria com o próximo disco, Computer World, lançado em 1981.

Computer World falava da importância que os computadores ocupavam na vida. Desde uma simples calculadora – “Pocket Calculator” – até o amor pelo computador – “Computer Love” e os primeiros passos no uso doméstico – “Home Computer”. Algumas críticas disseram que o Kraftwerk havia perdido o ato de prever o futuro e que eles estavam abordando assuntos banais. Mas o fato é que o grupo sempre se cercou e falou dos temas cotidianos da vida. Outra crítica era de caminharem na contramão dos acontecimentos dentro da Alemanha, já que o Kraftwerk celebrava a chegada da tecnologia, enquanto o computador central da polícia alemã causava uma paranóia em seus cidadãos.

O grupo lançou um compacto com as canções “Computer Love”, tendo no lado B “The Model”. O disco alcançou a 36ª posição nas paradas. Ainda assim, ele continou sendo executado na Inglaterra e na Alemanha até que a E.M.I. resolveu relançar “The Model” como um compacto. Em janeiro de 1982 o disco entrou em 21º na parada inglesa e no dia 6 de fevereiro alcançou o primeiro posto das paradas.

Enquanto o disco fazia sua escalada, o grupo estava promovendo seu novo trabalho com a última turnê que fariam até a década de 90.

O grupo colecionou alguns problemas na França, quando o single “The Model” foi relançado com um selo contendo “Number One in England”. Irritados, os franceses vetaram o single em seu país.

Um dos grandes motivos para o sucesso do Kraftwerk era a explosão de bandas que faziam do sintetizador seu instrumento favorito, como era o caso do Human League, Soft Cell, Depeche Mode, entre outros.

Os shows eram uma grande celebração com o público. Durante “Pocket Calculator”, os integrantes convidavam pessoas da platéia a tocar algumas notas em uma calculadora. Havia ainda uma grande exibição de robôs e muitos desses shows foram pirateados em discos até hoje consumidos. O sucesso também permitiu ao Kraftwerk equipar e modernizar seu estúdio Kling Klang, que agora era portátil e levado para o palco.

capa do compacto Planet RockEm 1982 o mundo foi surpreendido quando um compacto chamado Planet Rock, de Afrika Bambaataa atingiu as paradas do planeta inteiro. Bambaataa havia feito uma canção em cima de “Trans-Europe Express” e “Numbers”, provando a penetração da música do Kraftwerk.

Afrika se recorda da primeira vez que ouviu o grupo alemão: “quando me mostraram Kraftwerk, levei um susto e achei aquilo uma bosta esquisita.” A bosta esquisita, no entanto, encheu os bolsos do músico norte-americano e ele acabou sendo obrigado a relançar o compacto com o nome Planet Rock/Trans-Europe Express, após uma ameaça de processo legal e colocar nos créditos os nomes de Ralf e Florian.

Em 1983, o grupo faria, de certa forma, as pazes com os franceses ao lançar o seu mais famoso compacto: Tour de France. Inspirada na famosa corrida ciclística mais tradicional do planeta e esporte que fascina Ralf e Florian, o Kraftwerk compôs a trilha sonora perfeita para a prova. A idéia era fazer um disco inteiro sobre o tema, idéia descartada. A canção acabou tendo vários remixes, mas um grave problema fez com o que a divulgação do mesmo fosse prejudicada. Tudo porque Ralf Hutter sofreu um grave acidente de bicicleta e passou dias internados.

Quando o compacto foi finalmente lançado, a prova já havia terminado e o disco acabou vendo modestas 7.500 cópias na França. A canção chegou a ficar entre as 30 mais na Inglaterra, mas só voltaria com mais força, anos depois.

O grupo anunciou que estava então trabalhando em um novo disco cujo nome seria Technopop e que seria lançado ainda em 1983. Mas vários outros problemas foram adiando o novo trabalho. Pela primeira vez, o Kraftwerk mostrava falta de confiança em suas composições e em seu conceito e os músicos estavam mais ocupados tentando aprender as modernas técnicas de gravação e equipar melhor o Kling Klang.

Dessa maneira, a banda entrou em um estado de hibernação até 1986, quando voltaram com um novo disco, Eletric Café. E o disco foi duramente criticado por sua falta de criatividade, por utilizar idéias forçadas e por terem abandonado a simplicidade.

E as críticas não foram os únicos problemas. As vendagens ficaram aquém do esperado e Ralf teve um novo problema de saúde, sendo internado com uma suspeita de ataque cardíaco. Dessa maneira, o Kraftwerk voltou ao isolamento e só iriam dar as caras na década de 90… Mas isso é tema para a segunda parte da biografia… Um abraço e até a próxima coluna.


O grupo entra na década de 90 com um disco que cheirava a uma compilação meio sem-vergonha, mas que era, na verdade, uma releitura de antigos clássicos com nova roupagem. Assim nascia The Mix, o único disco de estúdio da década. Depois disso, o Kraftwerk entraria em férias profundas, tirando raramente a cabeça da toca. Mas o novo século deixou os já cinquentões animados e eles já começaram a nova era cheio de projetos…


Author: Beatrix