Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista “Parnaso Contemporâneo”, editada na capital francesa na década de 1860, quando ele se mudou para o interior da França com o objetivo de ensinar inglês nas escolas da região. Dos 21 aos 28 anos o poeta viveu com a família em três cidades: Tournon, Besançon (terra de Victor Hugo) e Avignon.
Mallarmé destacou-se por uma literatura,em que se mostra ao mesmo tempo lúcida e obscura. É por isso considerado um poeta difícil e hermético. Em suas famosas tertúlias literárias, em sua casa, em París, na rue de Rome, reunia-se a elite intelectual da época para sessões de leitura e conversas sobre arte e literatura. Entre os convidados, André Gide e Oscar Wilde. Seus comentários críticos sobre literatura, arte e música estimularam enormemente aos escritores simbolistas franceses, assim como aos artistas e compositores da escola impressionista, que ao final do século XIX desenvolveram uma arte espontânea em oposição ao formalismo da composição. No livro (projeto e idéias publicadas em 1956). Mallarmé pretende atribuir ao poeta a missão de escrever a obra que, por ser a explicação órfica da terra, submeterá ao domínio do espírito humano o azar, símbolo da imperfeição desse espírito. Um jogo de dados jamais abolirá o azar (1897), é um longo poema de versos livres e tipografia revolucionária que constitui a declaração trágica da impossibilidade de atingir o estabelecido no livro.
Também escreveu penetrantes artigos sobre a moda feminina de seu tempo. Mallarmé desempenhou um papel fundamental na evolução da literatura no século XX, especialmente nas tendências futurista e dadaístas. Está entre os precursores da poesia concreta ao lado de Guillaume Apollinaire (1880-1918) e o escritor americano Ezra Pound (1885-1972).
Um dia antes de morrer, Mallarmé pressentiu a chegada da morte. Pediu à mulher Marie e à filha Geneviève que queimassem todos os seus escritos, como fizeram Franz Kafka e o poeta Virgílio. Ele morreu asfixiado no dia seguinte. Mas, felizmente, elas não cumpriram o desejo dele.
L’APRÉS-MIDI D’UN FAUNE, 1876 – THE AFTERNOON OF THE FAUN – inspired Claude Debussy to compose his Prélude à l’aprés-midi d’un faune (1894); choreographed and danced by Nijinsky for Diaghilev’s Russian Ballet in 1912
PROSA, 1880
POÉSIES, 1887
ALBUM DE VERS ET DE PROSE, 1887
ALBUM DE VERS ET PROSE, 1891
PAGES, 1891
LA MUSIQUE ET LES LETTRES, 1891
VERS ET PROSE, 1893
DIVAGATIONS, 1897
UN COUP DE DÉS JAMAIS N’ABOLIRA LE HASARD, 1897
POÉSIES, 1899
MADRIGAUX, 1920
VERS DE CIRCONSTANCE, 1920
CONTES INDIENS, 1927
POÉSIES COMPLETES, 1928
ŒUVRES COMPLÉTES, 1951
PROPOS SUR LA POÉSIE, 1953
LETTRES, 1959
LES ‘GOSSIPS’, 1962
POUR UNTOMBEAU D’ANATOLE, 1962
CORRESPONDANCE 1862-71, 1959-71
Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.
Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;
Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde
Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela.
Cansado do repouso amargo
Uma linha de azul fina e pálida traça
Um lago, sob o céu atrás da nuvem clara
Molha no vidro da água um dos cronos aduncos,
Junto a três grandes cílios de esmeralda, juncos.
O Acaso
Cai
a pluma
rítmico suspense do sinistro
nas espumas primordiais
dde onde há pouco sobressaltara seu delírio a um cimo fenescido
pela neutralidade idêntica do abismo
Fosse
Seria
pior
não
mais nem menos
indiferentemente mas tanto quanto
A Vendedora de Roupas
O olho vivo com que vês
Até o seu conteúdo
Me aparta de minhas vestes
E como um deus vou desnudo
Angústia
Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar
Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:
Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade
De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.