Livraria Pirata

Depois de uma discussão sobre os chamados livros virtuais ou ebooks e a pirataria em uma lista da qual participo, pensei em colocar aqui no blog o meu ponto de vista sobre essa questão muito discutida hoje em dia. Em primeiro lugar começo a me questionar se a moral da pirataria de livros é a mesma do MP3, porque se quem condena o livro distribuido na internet de forma livre (desrespeitando os direitos autorais quando os mesmos existiram) depois baixa MP3 no Kazaa é no mínimo contraditório.

No caso do livro ainda se tem os seguintes desabonadores (alguns similares ao caso do MP3):

1- Você de fato não tem o produto, apenas uma imagem virtual dele. O livro de papel é bem mais confortável de ler, além de este verdadeiramente constituir materialmente o produto. Enfim, se com um livro em formato PDF você resolver criar um de papel imprimindo e encapando saí mais caro do que comprar um original (fora o trabalho que dá digitalizar tudo, as vezes digitando mesmo, ou usando aqueles programas OCR que não são muito exatos).

Ou seja pelo menos para mim e milhares de pessoas, o livro digital não substitui o de papel. Assim você pode adquirir um livro digital de algo que você quer ter uma idéia se é bom e que talvez você de fato nunca compre porque não gostou tanto assim.

2- O livro ao contrário do CD é passível de empréstimo. Existem, país afora, bibliotecas que se prestam a isso. Você fica com o livro algumas semanas e depois devolve após ter lido, e isso não torna os autores nem mais pobres nem mais ricos. No caso da edição virtual pirateada é quase a mesma coisa. Você fica algumas semana, lê depois deleta o arquivo.

3- A maioria dos livros que são pirateados já foram bestsellers e venderam adoidado, como o caso de alguns livros da Anne Ricce, Paulo Coelho e do Sydney Sheldon (que sinceramente nem de graça eu quero). Assim o autor já ganhou milhões com ele, e a venda em países periféricos como o Brasil não aumenta nem diminui consideravelmente esse montante.

4 – Se eu admiro um autor de fato eu não gostaria de pirateá-lo pois quero ter o livro dele na minha estante, mas infelizmente o preço do livro no Brasil é muito caro, mesmo livros de domínio público não saem por menos de 30 reais. Felizmente algumas edições estão surgindo tentando tornar esses livros mais acessíveis economizando entretanto na qualidade da impressão, mesmo assim fica em torno de 15 reais, o que eu ainda considero inaceitável.

5- Quanto aos autores, sinceramente, faz décadas que as nossas editoras não investem em novos escritores de qualidade, pois fica mais barato viver a custa de livros imbecis de auto-ajuda que vendem como água e bestsellers americanos com cérebro de ameba. E reclamam que nesse país não se lê. Assim pudera, nê.

Enquanto isso a Argentina mesmo falida consome 4 vezes mais livros do que o Brasil, têm 10 vezes mais livrarias que aqui e produz 10 vezes mais filmes (e de melhor qualidade do que nós).

Mas não é só por falta de mercado que as editoras cobram caro e publicam pouco, simplesmente elas seguem a lógica Tostines (não investimos porque não tem mercado, não tem mercado porque não investimos) e nós achamos que iremos resolver com a lógica FMI (eu vou encher, vou encher até sair…). Fora os livros hoje em dia há outras formas de entretenimento e informação como DVD, CD-Rom, internet etc. As próprias editoras também trabalham com esses artigos. Mas em vez de adotarem um diferencial pela qualidade e profundidade os meios de comunicação impressos resolveram adotar a mesmo linguagem diluida e superficial da grande rede, e a coisa está como está.

Quando algumas pessoas me dizem, “então porque você não vai a sebos” dá vontade de rir, para não chorar. Pois infelizmente em uma cidade como São Luís (que ao contrário do que se possa imaginar tem quase 1 milhão de habitantes e portanto não é pequena) só existe um único sebo que aliás tem o acervo muito restrito.

E iniciativas de publicação em formatos mais baratos são muito raras. Mas convenhamos já é um começo. Esses livros de banca são um exemplo disso. Houve até o lançamento de um livro da Virgina Woolf inédito em português em uma dessas coleções (se bem que o filme “As horas” ajudou muito nisso).

Entretanto a maioria das editoras prefere simplesmente ignorar o consumidor e oferecer qualquer coisa ou nada e nós que nos contentemos com os restos que nos são oferecidos.

Em outras palavras, querem que eu seja roubada enganada e ainda goste disso.

Se eu acho que a pirataria é a solução? Não, não acho, mas ela é o reflexo de uma politica de exclusão cultural que nos atinge.

Aliás muitos dos livros que eu quero são edições portuguesas que nem aqui são publicadas, algumas só acho em inglês, e mesmo sem impostos de importação saí muito caro. Ou seja o livro não paga imposto, mas como teria que pagar em libras ou dólares e somado ao preço do frete fica proibitivo. Assim se o produto não é oferecido em condições decentes (de preço e formato) o jeito é apelar para soluções alternativas. Mesmo assim prefiro comprar os livros na livraria, entretanto, como não posso ter todos os que preciso vou fazendo opções.

Mesmo longe dessa rixa de direitos autorais acho os ebooks uma boa opção principalmente no caso dos livros de domínio público que estão aí aos montes. Também é um bom começo para os novos escritores que são desprezados pelas grande editoras.

Aliás deixo com vocês o endereços de alguns sites que oferecem isso:

http://www.dominiopublico.gov.br/

http://virtualbooks.terra.com.br/

http://www.culturabrasil.pro.br/download.htm

http://www.librairie.hpg.ig.com.br/index.html

http://www.ebookcult.com.br/

http://cultvox.locaweb.com.br/inicio.asp

http://www.ateus.net/ebooks/

http://www.bibliotecavirtual.org.br/

http://bve.cibec.inep.gov.br/default.asp

http://www.prossiga.br/pacc/bvl/

Author: Beatrix