Ao contrário do que muitos pensam, o escultor e artista plástico Victor Brecheret não nasceu na Itália, e sim em São Paulo, como pode ser confirmado pela certidão de nascimento que se encontra no site da Fundação Brecheret, de responsabilidade de sua filha Sandra Brecheret. Ele nasceu no dia 22 de fevereiro de 1894, no Jardim América, em São Paulo.
Segundo estudiosos, os escultores Arturo Dazzi (1881-1966), Ivan Mestrovic (1883-1962), Auguste Rodin (1840-1917), Constantin Brancusi (1876-1957), Henry Moore (1898-1986), Medardo Rosso (1858-1928) e Hans Arp (1886-1966) constituem o elenco principal que norteia a produção escultórica do artista.
Embora marcada de início pela influência européia, grande parte da obra escultórica de Brecheret, que indicou rumos básicos à formulação do modernismo brasileiro, sempre denotou componentes nacionalistas.
Brecheret iniciou sua formação artística em 1912, estudando desenho, modelagem e entalhe em madeira no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Filho de italianos, em 1913 viaja para Roma com o intuito de aprimorar-se nas artes, onde permanece até 1919. Durante esse período torna-se aluno do escultor Arturo Dazzi (1881-1966), escultor que se destaca pelo gosto por figuras monumentais elaboradas com grande síntese formal. Em Roma estuda atentamente as obras de Auguste Rodin (1840-1917) e Emile Antoine Bourdelle (1861-1929), entre outros, e conhece o escultor Ivan Mestrovic (1883-1962). Quando retorna a São Paulo, em 1919, é um escultor com amplo domínio técnico. Instala seu ateliê no Palácio das Indústrias, em sala cedida por Ramos de Azevedo (1851-1928). É descoberto pelos modernistas Di Cavalcanti (1897-1976), Hélios Seelinger (1878-1965), Menotti Del Picchia (1892-1988), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), que passam a divulgar sua obra.
As esculturas “Ídolo” e “Eva” (ambas de 1919) apresentam um tratamento naturalista da anatomia e uma contida dramaticidade, que se expressa por meio de torções do corpo e de volumes trabalhados em luz e sombras acentuadas. A obra Eva encontra-se atualmente instalado no vale do Anhangabaú. O escritor e crítico Mário de Andrade denomina esse período da obra de Brecheret (em oposição à época posterior, em Paris) de fase de sombras, na qual estas sempre se valorizam mais do que a luz.
Em 1920, por encomenda do governo paulista, concebeu sua obra mais grandiosa, o “Monumento às bandeiras” , no qual evoca a saga dos bandeirantes na conquista de novas terras. Mas somente em 1936 tal projeto passou à realidade, num bloco de granito de cinqüenta metros de comprimento, 16 de largura e dez de altura, no qual foram esculpidas 37 figuras de grande expressividade, e só em 1953 o monumento pôde ser inaugurado, no parque Ibirapuera.
Graças à execução da escultura tumular “Figura Feminina”, atualmente no Cemitério do Araçá, conquistou uma bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Assim, em 1921, viaja a Paris onde permanece até 1935, para estudar escultura e desenvolver sua técnica.
Na capital francesa, entra em contato com os escultores Henry Moore (1898-1986), Emile Antoine Bourdelle (1861-1929), Aristide Maillol (1861-1944) e Constantin Brancusi (1876-1957). Alterna sua estada entre França e Brasil até 1936. Entre 1921 e 1929, expõe no Salon d´Automne, no Salon de la Société des Artistes Français – Section de Sculpture et Gravure sur Pierre e no Salon des Indépendents. Mesmo ausente do país, participa com 12 esculturas da Semana de Arte Moderna de 1922.
Em Paris, Brecheret será muito sensível a três fontes que busca fundir de maneira pessoal: a ênfase ao volume geométrico da escultura cubista, o tratamento sintético da forma dado pelo escultor romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e a estilização elegante do art deco. A convergência dessas matrizes pode ser percebida na obra “Tocadora de Guitarra” (1923). Nessa fase o escultor reduz a dramaticidade vista em suas obras anteriores. Agora produz formas simplificadas e de forte cunho ornamental. A escultura “Mise au Tombeau” (O Sepultamento), de 1923 – hoje no túmulo de Olivia Guedes Penteado, no cemitério da Consolação, em São Paulo – é uma das obras mais destacadas de seu período francês. Esta é organizada em formas lineares e possui uma suavidade melódica. O tema é tratado com muita simplificação formal, evocando um clima de grande serenidade.
Em Paris ainda foi premiado com a escultura “Templo da minha raça”. Mais uma vez em Roma, figurou na exposição internacional de 1925.
Em 1932, torna-se sócio-fundador da Sociedade Pró-Arte Moderna, SPAM. Inicia, em 1936, a execução do Monumento às Bandeiras, cujo anteprojeto data de 1920 e que é inaugurado em 1953 na Praça Armando Salles de Oliveira, em São Paulo.
Em 1936, Victor Brecheret fixa-se em São Paulo, onde recebe encomendas de esculturas públicas e também de trabalhos com temas religiosos. Retoma o projeto do “Monumento às Bandeiras”, que é concluído apenas em 1953. A obra se destaca pelas figuras elaboradas com grande síntese formal, pela preocupação com os volumes, pela simplificação dos detalhes e linhas estilizadas. O monumento consegue resumir o apelo narrativo e alegórico do tema: em sua composição convergem uma forte marcação horizontal e um movimento de arrasto que culmina na figura da Glória, que enfeixa heroicamente todo o grupo escultórico. O tratamento da superfície é mais áspero, se comparado ao de obras anteriores, o escultor dá maior ênfase à matéria.
É durante o período de 1930 a 1951 que Brecheret passa a trabalhar certas formas, materiais, movimentações e luminosidades que acabam por desvelar uma linguagem escultórica mais abstrata.
Nos anos 1940 e 1950, realizou esculturas para locais públicos, fachadas e baixos-relevos, entre outras obras. Boa parte das obras instaladas em áreas públicas, que hoje identificam a cidade de São Paulo, foram feitas por ele, como o “Monumento às Bandeiras” e a escultura de “Duque de Caxias”. Infelizmente muitas dessas obras hoje estão em péssimo estado de conservação e necessitam de restauração.
A partir da década de 1940, o artista se aproxima dos temas ligados à cultura indígena, em esculturas realizadas em bronze ou terracota: “Drama Marajoara” (1951) ou “Drama Amazônico” (1955).
Nessa fase passa a utilizar formas cada vez mais orgânicas e essenciais. E nesse período em que alcança o ponto alto de sua carreira, também trabalha com pedras de formas circulares, nas quais interfere realizando suaves incisões, como nas obras “Luta da Onça” ou “Índia” e o “Peixe” (ambas de 1947/1948).
Nestas evoca o caráter sagrado ou mágico das pedras e retoma assim, de maneira muito pessoal, formas e arquétipos indígenas, ainda que se note aí a presença da escultura de Henry Moore (1898-1986) e Hans Arp (1886-1966). Em trabalhos como “Luta dos Índios Kalapalos” (1951) produz formas nas quais dialoga com a abstração. Em “Índio e a Suassuapara” (1951) o artista parte de dois volumes que se aglutinam e trabalha as superfícies vazias ou cheias, nas quais se inserem as incisões. Essa obra expande o volume e oferece uma tensão conceitual, onde a figura equilibra-se com aspectos mais essenciais. O índio é uma forma inflada no espaço. É um grande volume. Cheio de inscrições, revela o desenho de seu rosto, com boca e olhos, cicatrizes, rasgos, tatuagens e marcas. O peixe envolve a figura por trás, enlaça-a. Os volumes se fundem e a obra aparece em dois ritmos: frontalmente, o índio encobre o peixe, numa movimentação ondulatória. Por trás, o peixe sobe verticalmente com a figura indígena, num confronto de forças. O material bronze desdobra-se em mais uma materialidade. Antes, mais liso, agora com mais texturas. A luz derrama-se sobre as superfícies, ressalta a linguagem de Brecheret: formas volumosas e simplificadas, movimentação orgânica, tratamentos “matéricos” diversos.
Premiado como melhor o escultor nacional na I Bienal de São Paulo, em 1951, Vítor Brecheret morreu em São Paulo em 18 de dezembro de 1955. Em 1957, a Bienal prestou-lhe homenagem, em sala especial com 61 esculturas e vinte desenhos. Em 1995 uma exposição de 112 esculturas do artista inaugurou o Museu Brasileiro de Escultura, em São Paulo.
Principais exposições individuais
1930 – Apresentação de obras na Praça Ramos de Azevedo.
1957 – Sala Especial na 4ª Bienal de São Paulo, onde ficaram expostos cerca de 60 de seus trabalhos.
1969 – Retrospectiva no Museu de Arte Brasileira – curadoria de Carlos von Schmidt.
1992 – XXIV Exposição de Arte Contemporânea na Chapel Art Show
1995 – É inaugurado em São Paulo o Museu Brasileiro da Escultura, com exposição de 71 obras de Brecheret.
Coletivas
1922 – Semana de Arte Moderna, São Paulo
1951 – Foi artista convidado na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em julho de 1978
1992 – Participação póstuma na exposição comemorativa dos 70 anos da Semana de Arte Moderna, Rio de Janeiro
2001 – Galeria de Arte André exposição 4 décadas, com curadoria de Carlos von Schmidt, São Paulo.
Principais prêmios
1916 – Primeiro prêmio na Exposição Internacional Belas Artes em Roma
1920 – Vence a concorrência para o Monumento das Bandeiras e o Monumento dos Andradas em São Paulo
1951 – Primeiro Prêmio Melhor Escultor Nacional em Escultura na I Bienal Internacional de São Paulo.
Cronologia
1894 – Nascimento de Victor Brecheret em São Paulo, dia 22 de fevereiro.
1916 – Participa da exposição dos “Amatori e Cultori” com a escultura Despertar, 1º prêmio na Exposição de Belas Artes.
1920 – 27 de julho – Expõe na “Casa Byington” a Maquete do Monumento às Bandeiras, concorrendo no concurso então instituído. Expõe em Santos (SP), juntamente com outros artistas, a Maquete do Monumento aos Andradas.
1921 – 24 de abril – Apresenta na “Casa Byington” a escultura Eva, esculpida em 1919.
1922 – Participa da “Semana de Arte Moderna” através de obras expostas no saguão do Teatro Municipal de São Paulo.
1923 – Expõe no “Salon d’Automne”, tendo sido premiado com a obra Mise au Tombeau (Sepultamento).
1924 – Expõe no “Salon d’Automne” sua obra Porteuse de Perfums (Portadora de Perfumes).
1925 – Participa do “Salon de la Société des Artistes Français de Sculpture et Cravure sur Pierre”, em Paris. Recebe Menção Honrosa. Expõe no “Salon d’Automne” a escultura Danseuse (Dançarina). Participa das “Exposições Internacionais de Roma”.
1926 – Expõe no “Salon d’Automne”.
1º Exposição em São Paulo.
“Peintres et Sculpteurs de L’Ecole de Paris, à la Renaiscence”, du 19 juillet au 15 octobre.
1929 – Expõe no “Salon des Indépendents” as esculturas Aprés le Bain (Depois do Banho) e Fuit on Egipte (Fuga para o Egito).
1932 – Sócio fundador da “Sociedade Pró Arte Moderna” (SPAM).
1934 – Aquisição pelo Governo Francês da obra O Grupo para o “Museu Jeu de Pomme”, atualmente em La Roche-sur-Yon, recebendo a “Cruz da Legião de Honra, a título de Belas Artes, no Grau de Cavaleiro”.
1936 – Início dos trabalhos para execução do Monumento às Bandeiras.
1937/39 – Participa do I, II e III Salão de Maio.
1941 – Vence o concurso internacional de maquetes para o Monumento a Caxias.
1942 – Esculpe o Fauno.
Esculpe para “Capela do Hospital das Clínicas” São Paulo e Cristo.
1946 – Via Crucis para a “Capela do Hospital das Clínicas”.
1950 – Participa da “XXV Bienal de Veneza”.
1951 – 1º Prêmio Nacional da Escultura na “I Bienal de São Paulo”, com O Índio e a Suassuapara.
1952 – Participa da “XXVI Bienal de Veneza”.
1953 – 25 de janeiro – Inauguração do Monumento às Bandeiras.
Fachada e Interior do “Jockey Club de São Paulo (Cidade Jardim).
Participa da “II Bienal de São Paulo”.
1954 – Afrescos Três Graças e São Francisco em Osasco, São Paulo.
Afresco da Capela Pararanga, Atibaia, SP.
1955 – Participa da “III Bienal de São Paulo”, expondo Bartira. Em maio participa da mostra “Artistes Brésiliens”, em Paris, através dos “Museus de Arte Moderna” do Rio e São Paulo.
17 de dezembro – Falecimento em São Paulo.
GALERIA
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Fontes
Fundação Escultor Victor Brecheret
http://www.victor.brecheret.nom.br/
Pitoresco:
http://www.pitoresco.com.br/escultura/brecheret/brecheret.htm
MAC/USP – Victor Brecheret
http://mac.mac.usp.br/projetos/percursos/brecheret/