Category Archives: Poesia

Poema para a fiandeira Beatrix

Poema para a fiandeira Beatrix

 

Enredei-me em teus fios vermelhos
ai de mim, quem vem me tirar
Fiandeira enrola os novelos
Pra este pobre homem soltar

Fiandeira, formosa e mesurada
pele branca tal qual o luar
Amarraste teus fios, ó malvada
De teu corpo ao meu triste olhar

Teus fios ruivos deixam-me entregue
Tua pele me põe a arder
E por mais que esta chama eu renegue
Fiandeira, queimo por você.

Por anônimo

Tecelã

Tecelã


Sinto a textura de cada fio da vida
E vou desvendando a arte de tecer
Cada ponto, cada canto.
O novelo se desenrola
Por vezes frágil
Por vezes ágil
E em cada ponto encontro o gesto
Em cada verso escuto o eco
De minha voz
Dos meus desejos
De gritar pro mundo
Ei, estou aqui !
Vejo que me vês
Escuta-me e descostura
A tua insensatez
Não adianta fugir de mim
Já cheguei
Pus agora meus pés
No ” fluxo da vida ”
Serei ,eu ,agora
Em cada fio
Em cada linha
O próprio tecido
Ora escondido
Ora adormecido
Dentro de mim
Mas descobri
Nesse entremear de fios
Que posso acordar meus sonhos
E fazer-me
E (re) fazer-me
Sempre
Afinal, o novelo da vida
Traz consigo
A possibilidade da costura
E da (re)costura
E da ventura e aventura
De sermos,simplesmente
E tecendo caminhos
Vou descobrindo
O feminino em mim
Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
A minha alma guardada
Para tecer comigo
A minha própria caminhada

Por Lina Passos

Súplicas às moiras

Súplicas às moiras
Tecendo a teia da vida e da morte
Moiras irmãs, que cirzam minha sorte
Urdam e tramem por minha ventura
Tragam-me a amada em sua tessitura.
Inda que seja breve a minha vida,
Mesmo sendo fugaz, seja garrida,
Por ter por privilégio a companhia
Da puella que ora canto em elegia.
Mas, se, reinando acima do divino,
Julgando impróprio dar-me tal destino,
Nem mesmo Zeus possa atender meu rogo,
Clotho, fiandeira, tece uma fogueira
Sorteia-me, Láquesis, medianeira
Átropos, joga o meu destino ao fogo!
Por Oldney Lopes

O tear

O tear

A fieira zumbe, o piso estala, chia

O liço, range o estambre na cadeia;
A máquina dos Tempos, dia a dia,
Na música monótona vozeia.

Sem pressa, sem pesar, sem alegria,
Sem alma, o Tecelão, que cabeceia,
Carda, retorce, estira, asseda, fia,
Doba e entrelaça, na infindável teia.

Treva e luz, ódio e amor, beijo e queixume,
Consolação e raiva, gelo e chama
Combinam-se e consomem-se no urdume.

Sem princípio e sem fim, eternamente
Passa e repassa a aborrecida trama
Nas mãos do Tecelão indiferente…

Por Olavo Bilac