Rosea perennis

Rosea perennis

 

Um homem com a aparência de um viajante adentrou o templo. Ele era muito alto, usava uma longa capa escura e sentou-se nos últimos bancos da Sé de Braga, afastado de nobres e figuras importantes que ocupavam aquele espaço.

Pelo capuz se via um pouco de seu rosto, parecia ser um homem aparentando entre 45 e 50 anos, seus olhos eram verdes e brilhantes. Seu cabelo era castanho de um tom mais claro e já mostrava alguns raros fios grisalhos, sua tez tinha um leve bronzeado. Mesmo as marcas da idade que já lhe assomavam ao rosto não lhe tiravam sua beleza singular.

Ele ficou absorto assistindo a cerimónia e sua expressão tinha um certo ar de incredulidade.

“Onde eu estava com a cabeça em cumprir a ordem de meu pai e deixá-la tão criança em um convento? Era de se imaginar algo assim vir a ocorrer. Ao menos ela não se estragou de todo. Pela Deusa, que desgraça! Mas se é o que ela quer, paciência.” 

O homem pensava enquanto acompanhava silenciosamente a cerimónia, os pensamentos que teve evocaram um profundo e lamentoso suspiro.

Aos poucos seus pensamentos lamentosos foram cedendo lugar à alegria de mais uma vez rever a irmã. Depois de tanto tempo, ela continuava ali diante dele, parecia feliz, segura e bem. O que mais ele poderia querer? Era estranho pensar que tanto tempo se passara desde que ele a reencontrara pela primeira vez, após sua dolorosa partida de Portugal. A jovenzinha teimosa e irriquieta tornara-se uma mulher madura e responsável, já com filhos crescidos. Talvez mais uma década ou menos e viriam os netos. Ele mesmo não se sentia mais o mesmo, não era mais o jovem arrogante de antes, pois as responsabilidades o tornaram mais sereno. As perdas que sofreu também tiveram o seu papel. Seu antigo amigo Yochanan morrera e mesmo que aquilo fizesse parte do eterno ciclo, foi algo que o abatera. Havia muitas coisas acontecendo no Norte, mesmo assim, ele não poderia deixar de ver sua irmã mais uma vez. Ele agora era pai novamente, e também veio para dar a Beatrix essa notícia.

No colo ele segurava um caixa delicada, em seu conteúdo havia uma linda rosa de prata e uma carta. A rosa tinha um significado importante para os Algrave, estava em seu brasão há muito tempo. Mas naquele dia, ele não queria ofertar a irmã a rosa negra de Mór-Ríoghain. Na verdade aquela flor embora estivesse ligada à Beatrix não era propriamente para ela. O irmão queria demonstrar através de um gesto amoroso que não se importava mais com as escolhas religiosas da irmã. O mais correto seria dizer que ele não só aceitava, mas que estava feliz com ela, independente do deus que ela desejasse seguir. Além de pureza, rosas brancas era símbolo de amor incondicional, e era assim que ele se sentia por sua irmã Beatrix. Aquela rosa guardava ainda outros significados, uma vez que a rosa de prata era um símbolo de poder sobre o mal. Uma vez que sua irmã estava bem, aquela divindade não deveria ser tão ruim, e por isso ele se sentia agradecido. O presente era portanto para a igreja a qual ela se dedicava. O envelope em que ele colocara uma mensagem, estava selado com o timbre dos Algrave.

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