A importância de um pingo de cera
Os selos fazem parte da heráldica desde o seu nascimento. De origem remota, talvez seja um de seus mais recorrentes usos, servindo como forma de identificação, autenticação de posse e principalmente, autenticação documental. O uso dos selos compõe dentro da própria heráldica uma forma de arte fascinante em sua própria especificidade.
Como se trata de um uso antigo há exemplares que surpreendem, pois se trata de uma arte deveras delicada, no que se refere ao seu suporte, no caso, o pingo de cera, moldado pela matriz, molde ou sinete. Mesmo assim, há quem se dedique a coleciona-los, não somente pela paixão que despertam em historiadores, mas também pela sua beleza intrínseca. Evidentemente, há aqueles selos conservados pelo valor dos documentos que autenticam, em especial, os selos aristocráticos, empregados por reis e nobres.
Apesar da preferência pela cera, pela sua facilidade de uso e sua acessibilidade, existiram selos feitos também em chumbo, ouro e prata derretidos.
Já os moldes em si, também chamados sinetes ou matrizes, são muitas vezes feitos de metal, alguns encastoados em anéis ou simplesmente em cabos de metal, osso ou madeira. Desses moldes é bem raro encontrar um remanescente mais antigo, por conta do costume de se destruir o molde do selo quando seu dono morria.
Na Heráldica Portuguesa os selos seguem padrões estabelecidos conforme as regras heráldicas locais, mas existe uma variedade muito grande usada em outros reinos. As cores aprovadas e utilizadas atualmente em Portugal são o verde, o vermelho, o amarelo e o azul. Selos vermelhos são para documentos e cartas privadas; selos amarelos são utilizados para documentos administrativos e selos verdes são indicados para uso em registos oficiais. Quanto à cor azul, ela é específica para selos de médicos, e seu uso é destinado aos documentos inerentes à função, como consultas e atestados de óbito.
Não somente a cor dos selos tem um significado que pode ser lido por quem o vê, indicando a natureza do documento que ele autentica, mas o próprio formato diz muito sobre a quem ele pertence.
Os selos ovais são atualmente destinados às mulheres desde que o formato seja expressamente solicitado. Todos podem, contudo, ter os modelos arredondados. As instituições também possuem selos próprios que os diferenciam dos selos pessoais, sendo claramente identificados.
Essa leitura é claro se amplia muito, quando nos concentramos na imagem do selo, e no que ele traz em escrita e simbologia. Além do nome do seu proprietário, o selo pode trazer seu título nobiliárquico, um lema em latim, e até mesmo sua cidade de origem. No centro do selo encontramos a representação do escudo ou brasão, ou ainda um elemento principal do escudo que represente o proprietário do selo, seja ele uma pessoa ou uma instituição.
A arte heráldica dos selos vem nos mostrar que pode existir muita informação, história e arte em um simples pingo de cera sobre um pedaço de papel.
A arte heráldica dos selos vem nos mostrar que pode existir muita informação, história e arte em um simples pingo de cera sobre um pedaço de papel.
Essa é a primeira matéria da série “Conhecimentos Heráldicos”.